Resumo:
Diante do inefável legado de Zygmunt Bauman para a sociologia e filosofia, há
também um legado para as Ciências Jurídicas, onde a dinâmica e a fluidez exigem
da doutrina e da jurisprudência novas habilidades para se manterem eficazes e coerentes.
Palavras-Chave:
Modernidade Líquida. Direito. Doutrina. Jurisprudência. Sociologia. Filosofia.
Zygmunt
Bauman (1927-2017) foi sociólogo, filósofo, professor e escritor polonês, foi
uma das vozes mais contundentes da sociedade contemporânea e criador da expressão
"modernidade líquida" para classificar a intensa fluidez do mundo
atual onde os indivíduos não possuem mais padrão de referência.
Nasceu
na Polônia, na cidade de Poznan, filho de judeus, e em 1939, junto com sua
família escapou da invasão das tropas nazistas na Polônia, tendo se refugiado
na União Soviética (URSS). Alistou-se no exército polonês e
atuou
no front soviética. Em 1940 ingressou no Partido Operário Unificado,
partido comunista da Polônia. E, em 1945 entrou para o Serviço de Inteligência
Militar, onde permaneceu durante três anos.
Com o
término da Segunda Guerra Mundial, voltou para Varsóvia. E, conciliou sua
carreira militar com os estudos universitários e também com sua militância partidária.
Estudou Sociologia na Academia de Política e Ciências Sociais de Varsóvia.
Ingressou
no mestrado na Universidade de Varsóvia. E, em 1950 deixou o Partido Operário. E,
em 1953 foi expulso do Exército da Polônia. E, em 1954 concluiu o mestrado e,
se tornou professor assistente de Sociologia na mesma Universidade. Durante
muitos anos se manteve próximo à ortodoxia marxista, porém, depois passou a
fazer severas críticas ao governo comunista da Polônia, o que resultou em
sérias perseguições durante quinze anos.
E, em
março de 1968, em protestos de professores, estudantes e artistas que lutavam
contra a censura do regime polonês, que culminou com expurgo antissemita e,
assim, obrigou a muitos poloneses de origem judaica a deixarem o país. E,
assim, foi exilado em Israel, onde lecionou na Universidade de Tel-Aviv. Em
1971 foi convidado para lecionar Sociologia na Universidade de Leeds, na
Inglaterra, onde também dirigiu o departamento de sociologia da Universidade
até sua aposentadoria em 1990.
Durante
mais de meio século foi um dos mais influentes observadores da realidade social
e política, apesar de ser descrito como pessimista, endossou o coro dos que
criticam a pós-modernidade, em busca de causas do processo social perverso, no
mundo das ideias do pensamento anticapitalista.
Em
2000 criou o termo "modernidade líquida" para descrever as
transformações do mundo contemporâneo, no qual nada é sólido e tudo se dilui no
ar. Sua derradeira obra é intitulada "Estranhos à Nossa Porta"
observa a crise dos refugiados que batem à porta da Europa.
A
modernidade líquida parte do pressuposto de que, no passado, tudo era sólido.
Assim, por exemplo: uma família tinha um pai, mãe e punhado de filhos.
Doravante, o mundo estaria mais líquido.
Ou
pelo menos, os conceitos se tornaram mais ambíguos. E, as famílias líquidas passaram
a ser aceitas com naturalidade. E, hoje em dia, até mesmo um bando de solteiros
ou solteiras que moram juntos pode ser considerada como família.
Para
Bauman, não apenas as famílias que estão mais líquidas, mas também o mundo. Na
vida profissional, um desses sintomas é a instabilidade das carreiras.
E,
essa liquidez interfere até na hora de ter medo, pois ao invés de se ter um
nítido inimigo, surge o terrorismo, que pode estar e atacar em qualquer lugar.
Não é
porque o sociólogo polonês passou a entender o mundo, que ele passou a
concordar com tudo que vige e dinamiza-se por aí. Ao revés, tornou-se crítico
do consumismo exacerbado, o sociólogo reclama que fluidez tornou mais flexíveis
os valores importantes, tal como a relação humana, o respeito, o amor e comprometimento. E, curiosamente, foi a
defesa de valores sólidos que fez de Bauman um dos pensadores contemporâneos
mais importantes.
Vejamos
alguns de seus pensamentos, in litteris:
Conheça
um pouco do pensamento de Bauman:
“O
medo está lá, saturando diariamente a existência humana, enquanto a
desregulamentação penetra profundamente nos seus alicerces e os bastiões de
defesa da sociedade civil desabam. O medo está lá – e recorrer a seus
suprimentos aparentemente inexauríveis e avidamente renovados a fim de
reconstruir um capital político depauperado é uma tentação à qual muitos
políticos acham difícil resistir. E a estratégia de lucrar com o medo está
igualmente bem arraigada, na verdade uma tradição que remonta aos anos iniciais
do ataque liberal ao Estado social.” In:
Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”. [tradução Carlos Alberto
Medeiros].Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 23.
“Massas
cada vez maiores de pessoas desperdiçadas no equilíbrio político e social da
coexistência humana planetária. A consequência da globalização do mercado
financeiro e de trabalho, da modernização administrativa pelo capital, do modo
de vida moderno, colaboram para os “escoadouros” humanos, excluindo os não
pertencentes ao meio. […] A vida moderna produz uma “escala crescente: a
população supérflua, supranumerária e irrelevante – a grande quantidade de
sobras do mercado de trabalho e o refugo da economia orientada para o mercado,
acima da capacidade dos dispositivos de reciclagem.”
In:
Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 35.
“Transformações
sociais, culturais e políticas associadas à passagem do estágio “sólido” para o
estágio “líquido” da modernidade, o afastamento da nova elite (localmente estabelecida,
mas globalmente orientada e apenas ligada de forma distante ao lugar em que se
instalou) de seu antigo compromisso com a população local e a resultante brecha
espiritual/ comunicacional.” In: Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”.
[tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 84.
“Pensar
tira nossa mente da tarefa em curso, que requer sempre a corrida e a manutenção
da velocidade. E na falta do pensamento, o patinar sobre o gelo fino que é uma
fatalidade para todos os indivíduos frágeis na realidade porosa pode ser
equivocadamente tomado como seu destino.” In: Zygmunt Bauman, trecho do livro
“Modernidade líquida”. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro:
Editora Zahar, 2001.
“Tomar
distância, tomar tempo – a fim de separar o destino e a fatalidade, de
emancipar o destino da fatalidade, de torná-lo livre para confrontar a
fatalidade e desafiá-la: essa é a vocação da sociologia. E é o que os
sociólogos pode fazer caso de esforcem consciente, deliberada e honestamente
para refundir a vocação a que atendem – sua fatalidade – em seu destino.” In:
Zygmunt Bauman, trecho do livro “Modernidade líquida”. [tradução Plinio
Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.
“Nós
somos responsáveis pelo outro, estando atento a isto ou não, desejando ou não,
torcendo positivamente ou indo contra, pela simples razão de que, em nosso
mundo globalizado, tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na
vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se privam de fazer) acaba
afetando nossas vidas.”
In:
Zygmunt Bauman, trecho do livro “Modernidade líquida”. [tradução Plinio
Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.
Eis a
lista de obras de Bauman já publicadas no Brasil:
Ética pós-moderna, de
Zygmunt Bauman. [tradução João Rezende Costa]. 1ª ed., São Paulo: Paulus
Editora, 1997.
Modernidade
e holocausto, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes
Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
Modernidade
e ambivalência, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes
Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
Globalização:
as consequências humanas, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus
Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
O
mal-estar da pós-modernidade, de Zygmunt Bauman. [tradução
Cláudia Martinelli Gama e Mauro Gama]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
Em
busca da política, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes
Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
Modernidade líquida, de
Zygmunt Bauman. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Zahar, 2001.
Comunidade:
a busca por segurança no mundo atual, de Zygmunt Bauman. [tradução
Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2003.
Amor
líquido, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004.
Vidas
desperdiçadas, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto
Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
Identidade, de
Zygmunt Bauman. (Entrevista a Benedetto Vecchi). [tradução Carlos Alberto
Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
Europa
– uma aventura inacabada, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos
Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
Vida
líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 2ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.
Tempos
líquidos, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.
Medo
líquido, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.
Vida
para consumo, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto
Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.
A
sociedade individualizada – vidas contadas e histórias vividas, de
Zygmunt Bauman. [tradução José Gradel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar,
2008.
Confiança
e medo na cidade, de Zygmunt Bauman. [tradução Eliana Aguiar].
1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.
A arte
da vida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.
Capitalismo parasitário, de Zygmunt
Bauman. [tradução Eliana Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
Legisladores
e intérpretes, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar].
1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
A
ética é possível num mundo de consumidores? de Zygmunt Bauman.
[tradução Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar,
2010.
Aprendendo
a pensar com a sociologia, de Zygmunt Bauman e Tim May. [tradução
Alexandre
Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
A vida
a crédito, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
Bauman
sobre Bauman, de Zygmunt Bauman. (Biografia) [tradução
Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
Vida
em fragmentos – sobre a ética pós-moderna, de Zygmunt
Bauman.[tradução Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Zahar, 2011.
44
cartas do mundo líquido moderno, de Zygmunt Bauman. [tradução
Vera Pereira]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
Ensaios
sobre o conceito de cultura, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos
Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.
A
cultura no mundo líquido moderno, de Zygmunt Bauman. [tradução
Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.
Isto
não é um diário, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto
Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.
Sobre
a educação e juventude, de Zygmunt Bauman. (Conversas com
Riccardo Mazzeo).. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro:
Editora Zahar, 2013.
Danos
colaterais – desigualdades sociais numa era global, de
Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro:
Editora Zahar, 2013.
Vigilância
líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
Cegueira
moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida, de
Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro:
Editora Zahar, 2014.
A
riqueza de poucos beneficia todos nós?, de Zygmunt Bauman. [tradução
Renato Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
Para
que serve a sociologia? de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos
Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2015.
Estado
de crise, de Zygmunt Bauman e Carlo Bordoni. [tradução Renato
Aguiar]. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
O
retorno do pêndulo: Sobre a psicanálise e o futuro do mundo líquido, de
Zygmunt Bauman e Gustavo Dessal. [tradução Joana Angélica d’Avila Melo]. Rio de
Janeiro: Zahar, 2017.
Retrotopia, de
Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
A
individualidade numa época de incertezas, de Zygmunt Bauman e Rein
Raud. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
Nascidos
em tempos líquidos: Transformações no terceiro milênio, de
Zygmunt Bauman e Thomas Leoncini. [tradução Joana Angélica d’Avila Melo]. Rio de
Janeiro: Zahar, 2018.
Mal
líquido: Vivendo num mundo sem alternativas, de Zygmunt Bauman e
Leonidas Donskis. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Zahar,
2019.
Livros
sobre Zygmunt Bauman
SILVA,
Paulo Fernando da. Conceito de ética na contemporaneidade segundo Bauman.
São Paulo: FEU – Fundação Editora Unesp); Cultura Acadêmica, 2013.
Nove
frases memoráveis para lembrar Zygmunt Bauman in:
El
País Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/09/cultura/1483983882_874557.html Acesso
em 11.01.2022.
1. “As
redes sociais são uma armadilha”.
2. “O
velho limite sagrado entre o horário de trabalho e o tempo pessoal desapareceu.
Estamos permanentemente disponíveis, sempre no posto de trabalho”.
3.
“Tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e
da amizade”.
4.
“Esquecemos o amor, a amizade, os sentimentos, o trabalho bem-feito. O que se
consome, o que se compra, são apenas sedativos morais que tranquilizam seus
escrúpulos éticos”.
5. “O
movimento [espanhol] de 15 de março é emocional, carece de pensamento”.
6. “Os
grupos de amigos ou as comunidades de bairro não te aceitam sem dar razão, mas
ser membro de um grupo no Facebook é facílimo. Você pode ter mais de 500
contatos sem sair de casa, você aperta um botão e pronto”.
7.
“Foi uma catástrofe arrastar a classe média à precariedade. O conflito não é
mais entre classes, é de cada um com a sociedade”.
8. “As
desigualdades sempre existiram, mas de vários séculos para cá se acreditou que
a educação podia restabelecer a igualdade de oportunidades. Agora, 51% dos
jovens diplomados estão desempregados e aqueles que têm trabalho têm empregos
muito abaixo das suas qualificações. As grandes mudanças na história nunca
vieram dos pobres, mas da frustração das pessoas com grandes expectativas que
nunca se cumpriram”.
9. “A
possibilidade de que o Reino Unido funcione sem a Europa é mínima”, disse em
2011.
Continuando:
Na era da informação, a invisibilidade é
equivalente à morte.
Nenhuma
sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas
para os problemas que a afligem.
Os
tempos são líquidos porque, assim como a água, tudo muda muito rapidamente. Na
sociedade contemporânea, nada é feito para durar.
A vida
é muito maior que a soma de seus momentos.
A
incerteza foi sempre o chão familiar da escolha.
A
única coisa que podemos ter certeza é a incerteza.
A
paixão por se fazer notar é um exemplo importante, talvez o mais gritante, dos
nossos tempos, nos quais a versão atualizada do cogito (penso) de Descartes
seria: 'Sou visto (observado, notado, registrado), logo existo'.
Analisando
como a modernidade líquida afeta as Ciências Jurídicas, segundo Renata Malta
Vilas-Bôas, in litteris:
Se
vivemos em uma modernidade líquida logo o direito acabou também sendo um
“direito líquido”. Não no sentido jurídico, mas sim no sentido apontado por Bauman…
E esse
direito líquido reflete-se em doutrinas superficiais, em que a reflexão
jurídica fica prejudicada, a ausência de comprometimento tanto com o estudo quanto com a responsabilidade do que
se está dizendo e colocando – principalmente nas redes sociais. Surgem inúmeros
“juristas de Facebook/Instagram”, levando
conceitos incompletos ou até mesmo errados para os seus seguidores.
(In:
VILAS-BOAS, Renata Malta. Na Modernidade Líquida o Direito também é líquido?
Disponível em: https://estadodedireito.com.br/na-modernidade-liquida-o-direito-tambem-e-liquido/
Acesso em 11.01.2022).
Já
Mauro Gaudêncio Júnior Teixeira, aponta os desafios da nova hermenêutica constitucional,
pois a modernidade líquida afetou também a interpretação constitucional na
aproximação de uma visão dogmática constitucional: das identidades
autoconstituídas que devem ser suficientemente sólidas para serem reconhecidas
como tais e ao mesmo tempo flexíveis o suficiente para não impedir a liberdade
de movimentos futuros em circunstâncias constantemente cambiantes e voláteis.
[...]
Ou a notória dificuldade de generalizar as
experiências, vividas como inteiramente pessoais e subjetivas, em problemas que
possam ser inscritos na agenda pública e tornar-se questões de políticas
públicas (BAUMAN, 2010, p.56).
Júnior
Teixeira apud Luís Roberto Barroso, aponta em sua obra três grandes
transformações teóricas que revolucionaram o conhecimento tradicional relativamente
à aplicação do direito constitucional, a saber: a) o reconhecimento de força
normativa à Constituição; b) a expansão da jurisdição constitucional; c) o
desenvolvimento de uma nova dogmática de interpretação.
O que
contribui para contribuir as mudanças paradigmáticas sobre da Teoria da
Constituição, trouxeram contribuições significativas para modelo jurídico institucional
vigente em nosso país.
Há
casos difíceis ou hard cases que decorrem da colisão de normas
constitucionais, de questões morais, onde o papel do aplicador (julgador)
ascenderá para criar a solução constitucionalmente adequada para o caso
concreto. (In: JÚNIOR TEIXEIRA, Mauro Gaudêncio. Modernidade líquida. Os
desafios da norma hermenêutica constitucional. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/24722/modernidade-liquida Acesso
em 11.01.2022).
Estamos
vivenciando a era de grupos de referência predeterminados a uma outra
comparação universal, em que a autoconstrução individual pode influenciar de
forma positiva o processo de interpretação da norma, fomentando à participação
da sociedade na condição de destinatários da norma, seja como cointérpretes,
conforme já explicava o doutrinador Haberle em sua obra intitulada Hermenêutica
Constitucional, ao propor uma hermenêutica democrática, fazendo prevalecer a
vontade da Constituição. Afinal, deve-se
realçar a relevância dos mecanismo que disseminem a vontade da Constituição,
como a inclusão e a garantia e acesso aos direitos consagrados em nossa
Constituição.
Lidar
com a fluidez constante dos fatos e valores afetam o Direito e, lidar com isso é
um dos desafios da Justiça, segundo o historiador Leandro Karnal. Pois afinal, nesse
mundo líquido a autoridade é diluída, onde as realidades são dinâmicas e
rápidas. Vivenciamos mudanças permanentes e, que não dependem da consciência e
da vontade humana. Assim, temos opções, a saber: ou me transformo e me adapto
ou eu paro e, então, a transformação passa por mim.
Referências
BARROSO,
Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo Os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. 3ª ed., São Paulo: Saraiva,
2011.
BAUMAN,
Zygmunt. Legisladores e Intérpretes. Tradução de: Renato Aguiar, Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2010.
DE
VASCONCELLOS, Marcos. Realidade descrita por Zygmunt Bauman desafia o
Direito e a Justiça. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-jan-09/realidade-descrita-zygmunt-bauman-desafia-direito-justica
Acesso em 11.01.2022.
HÄBERLE,
Peter. Hermenêutica Constitucional – A Sociedade Aberta dos Intérpretes da
Constituição: Contribuição para a Interpretação Pluralista e “Procedimental” da
Constituição. Tradução de: Gilmar Ferreira Mendes, Porto Alegre: Sérgio
Antonio Fabris Editor, 1997, reimp. 2002.
HESSE,
Konrad. A força normativa da Constituição. Porto Alegre: Sérgio Antonio
Fabris, 1991.
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