terça-feira, 22 de março de 2022

A guerra contemporânea

 



 

 

Durante toda a história, as guerras se tornaram comuns desde os primórdios das civilizações. Porém, nem todas as guerras são iguais. Cada guerra possui características peculiares, ferramentas, métodos e, mesmo interesses diferentes. Muitas mudanças fizeram com que se produzisse as chamadas guerras híbridas.

Como disse o filósofo Hobbes, o estado de natureza é estado de guerra, um estado marcado por iniciativas invasivas e ofensivas de cada indivíduo contra qualquer outro. Este estado, que vem a ser obrigatoriamente toda vez que o poder soberano é removido, é a pior situação coletiva possível.

Bobbio [1]descreve uma definição para indicar as mais frequentes conotações de “guerra”, a partir de três características: “a guerra é, (a) um conflito, (b) entre grupos políticos respectivamente independentes e considerados como tais, (c) cuja solução é confiada à violência organizada” (Bobbio, 1983).

Bobbio esclarece essa questão do conflito permanente e da relação da pessoa com seus direitos e proibições quando explana. Encontrando-se num mundo hostil, tanto em face da natureza quanto em relação a seus semelhantes, segundo a hipótese hobbesiana do homo homini lupus, o homem buscou reagir a essa dupla hostilidade inventando técnicas de sobrevivência com relação à primeira, e de defesa com relação à segunda. Estas últimas são representadas pelos sistemas de regras que reduzem os impulsos agressivos mediante penas, ou estimulam os impulsos de colaboração e de solidariedade através de prêmios.

O Estado considerado que seja ente político materializado em uma pessoa jurídica de direito público, interno ou internacional representa a concentração máxima de poder e direito. O Legislativo enquanto função estatal que materializa a representação da sociedade e de sua democracia cria a legitimidade para a construção de normas e, assim, evitar ou mitigar conflitos.

Ao tratar do conflito e formulando uma teoria social crítica Axel Honneth, por exemplo, propõe a construção social da identidade, seja pessoal e coletiva, conforme a gramática do processo de luta, ou seja, luta pelo reconhecimento. Divergindo de Habermas, para quem a base de a interação é o conflito e, sua gramática seria a luta pelo reconhecimento.

Já caberá ao Poder Judiciário resta a tarefa de resolver as lides mediante processos judiciais, sejam consensuais ou contenciosos, mediante o julgamento por julgador togado. E, juntamente com a capacidade executiva e coercitiva se faria assim a realização da decisão judicial, extinguindo o conflito de interesses. Assim, alcançando seu intento através do Estado-juiz seriam a paz e a pacificação social realizadas. E, a vontade popular expressa pelos demais poderes, deve se fazer valer pelo Judiciário, portanto, existem limites a serem respeitados e observados, e, assim, a sociedade ganha como um todo.

A guerra é luta armada entre nações, ou entre partidos políticos de mesma nacionalidade ou de etnias diferentes, com o fito de impor supremacia ou salvaguardar interesses materiais ou ideológicos. Assim, a guerra além de ser um fenômeno político-econômico, é, sobretudo, um fenômeno social. Em resumo, a história da humanidade e a história das guerras estão umbilicalmente relacionadas e os estudos destas são necessários.

Muitos debates a respeito da natureza da guerra fizeram surgir teorias para distinguir as guerras do passado, do presente e do futuro. E, a depender do período histórico existiam elementos comuns nas guerras vivenciadas, mas que com o tempo essas ferramentas usadas foram se tornando cada vez mais eficientes. E, os conflitos podem ser classificados em quatro períodos distintos.

A guerras de primeira geração se iniciaram com o Tratado de Westfália, acontecimento histórico que definiu que todos os Estados eram soberanos e possuíam o direito de escolher sua própria organização interna e a orientação religiosa.

Nesse cenário, as guerras representavam um monopólio do Estado-nação, isto é, só poderiam ser realizadas através da força nacional do Estado. E, os enfrentamentos entre esses Estados eram caracterizados pelos exércitos numerosos e pela rigidez de táticas e formações lineares, em terra ou no mar.

Esse tipo de conflito tem como exemplo emblemático as Guerras Napoleônicas (1803-1815).

As Guerras Napoleônicas foram resultado direto das Guerras Revolucionárias Francesas (1792 a 1802), desencadeadas pelo choque entre os novos ideais revolucionários e a defesa do sistema monárquico nos países europeus, representado principalmente pelo Sacro Império Romano. Adiantando-se a prováveis intervenções externas de seus vizinhos absolutistas, a França tomou a iniciativa de conquistar territórios.

As Guerras Revolucionárias Francesas foram divididas em dois períodos: as guerras contra a Primeira e a Segunda Coalizões. A Primeira Coalizão foi composta pelo Sacro Império Romano (dinastia Habsburgo na Áustria e Prússia), pela Grã-Bretanha, Espanha, Holanda e Portugal e alguns outros reinos menores.

O início oficial das Guerras Napoleônicas foi com o rompimento do tratado por parte do Reino Unido em 1803 porque, entre outros motivos, Napoleão se recusou a permitir que os ingleses participassem de assuntos diplomáticos e comerciais com a Europa continental. O conflito começou não nos campos de batalha, mas com guerras comerciais: com a força da marinha, a Inglaterra fez um bloqueio naval à França. Em resposta, os franceses impuseram um embargo econômico em parceria com os países aliados continentais (Dinamarca-Noruega, Prússia, Suécia e Rússia, que formaram a Segunda Liga da Neutralidade Armada).

Os 12 anos de Guerras Napoleônicas foram divididos de acordo com as cinco coalizões que enfrentaram o império francês, todas elas lideradas pelo Reino Unido e compostas, cada qual em seu tempo, por países como Áustria, Rússia, Prússia, Espanha, Portugal, Suécia, Império Otomano, Pérsia, Hungria, Países Baixos e reinos onde hoje estão Alemanha e Itália. A primeira grande vitória de Napoleão foi contra a Terceira Coalizão na Batalha de Austerlitz (na atual República Tcheca).

As guerras de segunda geração foram trazidas no embalo da Revolução Industrial que possibilitou marcante mudança e, ocorreu o aumento do poder de foto e do alcance e precisão das armas. Enfim, as guerras se tornaram maiores, dotadas de maior violência e maior número de países envolvidos. O primeiro conflito desta geração foi a Guerra Civil Americana (1861-1865), no entanto, o exemplo mais impactante foi a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

A terceira geração de guerra foi lastreada principalmente na noção de movimento. E, a II Guerra Mundial deixou fartas contribuições para esse marco temporal. Durante tal conflito, as guerras deixaram de ser apenas aquelas dos soldados no chão, contando com novos instrumentos que passaram a ser usados, como por exemplo, os carros de combate, submarino e a aviação militar.

Outra notável característica das guerras de terceira geração foi a blitzreig, ou guerra-relâmpago, uma tática militar alemã. E, se utilizava de tropas móveis e com ataques céleres e de surpresa com o fim de evitar que as forças inimigas, mesmo que dotadas de grande capacidade de fogo, pudesse organizar uma defesa e, assim, fossem facilmente derrotadas.

Essa tática foi considerada técnica inovadora já que as guerras anteriores eram muito rígidas, quase que ensaiadas.

As guerras de quarta geração ou conflitos periféricos, locais ou regionais que pode envolver inclusive atores não-estatais e se disseminaram no período da Guerra Fria e, acarretaram o desenvolvimento das guerras de quarta geração. Os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001, sendo um marco histórico.

De lá para cá, vivemos numa espécie de conflito de baixa intensidade permanente, havendo surtos periódicos dotados de média ou alta intensidade. Os conflitos, nesse contexto, costumam ser multidimensionais, envolvendo ações em terra, no mar e no ar e, no espaço exterior, pode incluir até o ciberespaço.

O inimigo pode até não ser propriamente um Estado, mas grupo terrorista, outra organização criminosa qualquer ou até mesmo civis. Do mesmo modo, o alvo também pode ser qualquer um, não importando as consequências.

É recente o conceito de guerra híbrida, mas o 11 de setembro de 2001 serviu demasiadamente para o desenvolvimento de estudos, e para plasmar um peculiar tipo de guerra contemporânea.

Segundo Frank Hoffman, militar e analista norte-americano em seu famoso artigo Conflit in the 21 st Century: The Rise of Hybris Wars, as guerras híbridas assumem uma gama de diferentes modos, incluindo as capacidades convencionadas, táticas e formações irregulares, atos terroristas, incluindo violência e coerção indiscriminadas e desordem criminal.

Outro estudioso é o analista político e o jornalista russo, Andrew Korybko, na sua obra intitulada "Guerra Híbrida: das revoluções coloridas aos golpes", que deduziu que as guerras híbridas são caracterizadas como:

    “conflitos identitários provocados por agentes externos, que exploram diferenças históricas, étnicas, religiosas, socioeconômicas e geográficas em países de importância geopolítica por meio da transição gradual das revoluções coloridas para a guerra não convencional, a fim de desestabilizar, controlar ou influenciar projetos de infraestrutura multipolares por meio de enfraquecimento do regime, troca do regime ou reorganização do regime”.

Em maio de 2015, em um documento do serviço europeu de Ação Externa, a União Europeia caracterizou a guerra híbrida como uso centralmente concebido e controlado de várias táticas encobertas e abertas, decretadas por meio de militares e não-militares.

É uma estratégia de guerra na qual os agressores exploram todos os modos de guerras de forma simultânea. E, tal conflito é notabilizado pela incerteza, assimetria, não-linearidade e multimodalidade.

O adjetivo “híbrido” tem sido usado para evidenciar a complexidade dessa modalidade de guerra devido aos vários atores envolvidos e a indefinição entre as categorias de conflitos existentes.

Nesse tipo de guerra, há mescla de instrumentos, tanto de armas avançadas, tecnologias agressivas, ferramentas psicológicas, manipulação de problemas identidários (diferenças históricas, étnicas, religiosas, socioeconômicas e geográficas), promoção de desinformação, lawfare e outros meios. E, contudo, existem duas estratégias não-militares que são essenciais para as guerras híbridas: as guerras informacionais e as guerras econômicas.

As informacionais exploram os meios de comunicação não apenas para informar, mas também para formar a opinião da sociedade. E, o avanço das TICs, tecnologias de informação e comunicação são fartamente utilizados pela mídia através de suas precípuas atividades, por exemplo, a cibernética e as operações psicológicas.

Repise-se que tais duas áreas representam atualmente uma forma de ciência do controle da comunicação e da cognição humana. E, suas análises formais são bastante complicadas pois envolvem áreas das ciências, como a engenharias e finanças.

Portanto, a informação passou ser um precioso instrumento usado nas guerras, e contribuem para que os conflitos armados sejam ou não declarados, noticiados e tornado públicos e, até mesmo, legitimados (considerados aceitáveis) por certos grupos.

Já o conceito de guerras econômicas não é recente, oriundo do século XX, sendo um dos mecanismos usados pelas grandes potências a fim de obter maiores ganhos sem o uso de conflito armado como única solução.

Nota-se que a troca comercial, investimentos, subsídios governamentais e as relações econômicas no mercado externo representam atualmente um dos principais meios de exercer influência no sistema internacional, afinal, o que está em jogo é a aquisição e não apenas de armamentos, mas, principalmente de tecnologias.

Nas guerras híbridas há objetivos como o desestabilizar de governos oponentes e suas instituições, criando o caos e o vazio de poder. Sendo instrumento muito útil, quando há a intenção de desestabilizar a ordem existente em um Estado através, particularmente, da provocação de grandes movimentos de protesto e que podem então ser direcionados por eles para atingir seus interesses políticos.

As revoluções coloridas do leste europeu, como a Revolução das Rosas na Geórgia, a Revolução Laranja na Ucrânia[2] e a Revolução das Tulipas no Quirguistão e, até mesmo, na Primavera Árabe que poderia ser qualificadas como guerras híbridas.

Ainda, em 15 de março de 2014, quando dos protestos em Moscou um dia antes do referendo da Crimeia. E, um fato que chamou atenção da política internacional, bem no início do ano de 2021 foi a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump nos EUA e, posteriormente, a esperada tomada de posse de Joe Biden duas semanas depois, o ano de 2022, coloca em evidência a velha disputa de fronteiras na Europa: a crise entre a Ucrânia e Rússia.

Há três pontos que elencam as principais questões envolvidas nesse que é um dos primeiros focos de tensão internacional. Afinal, o legado de russos, ucranianos e, até de bielorrussos que está ligado ao mesmo povo: os Rus. Foi no ano de 862 que um príncipe viking chamado Rurik que iniciou a união das tribos eslavas e finlandesas que consolidaria a Rússia Quievana, uma confederação que duraria até 1240, quando ocorreu a invasão mongol na Europa que colocou um término nessa união. Eis aí, o primeiro ponto de proximidade entre Rússia e Ucrânia.

Com a decadência e queda da Rússia Quievana, o território que compõe a Ucrânia moderna acabou sendo dividido em duas esferas, a saber: a primeira, oriental, controlada e, em seguida, anexada pela Rússia. E, a segunda, ocidental, controlada inicialmente pela República Polaca-Lituana e, a partir de 1772, pelo Império Austro-Húngaro até o fim da Primeira Guerra Mundial.

Daí surgiu um dos elementos que marcam o debate sore o desejo russo de anexar a Ucrânia (ou pelo menos uma parte desta), enquanto o lado oriental manteve próximas ligações com a cultura russa, o lado ocidental desenvolvera traços culturais próprios, que fundamentam a ideia da Ucrânia como uma nação própria e independente.

Outro fator importante foi o fim da Primeira Guerra Mundial que fora marcado pela sucessão de eventos para os ucranianos, quando começou a conquista da independência da República da Ucrânia, através do Tratado de Brest-Litosvski em 1918, e terminou abruptamente, com a conclusão da Guerra Soviético-Ucraniana em 1921, que firmaria a república Socialista Soviética da Ucrânia como uma das repúblicas integrantes da União Soviética.

Somente em 1991, com a dissolução da USRR, que a Rússia e a Ucrânia voltaram estar em caminhos opostos e, desde então, os elos para o conflito foi se formando e, se concretizou de vez em 2022.

Lembremos que em 2014, o governo russo atual, já representado por Vladimir Putin lançou campanha militar e anexou o território da Crimeia em meio às tensões causadas pela Revolução

Ucraniana e a eventual saída do então presidente ucraniano, Viktor Yanulovych, conhecido por sua proximidade com os russos e por ser crítico da consolidação de acordo de associação entre a União Europeia e a Ucrânia.

Em tempo, é sabido que a Crimeia era uma porção autônoma dentro da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, ou seja, uma das repúblicas que compunha a URSS até 1954, quando o então líder soviético, Nikita Khruschev (1894-1971) decretou a transferência da região para a República Socialista Soviética da Ucrânia.

E, após rápida tomada militar russa, apoiada por separatistas e políticos pró- Rússia enfrentou parca oposição local, em face de que a maior parte dos soldados ucranianos da Crimeia eram veteranos das forças armadas soviéticas que eram conhecidos por serem céticos em face da independência da Ucrânia.

A comunidade internacional não tardou em reagir através da Resolução 68/262 da Assembleia Geral das Nações Unidas que requisitou o respeito à integridade territorial da Ucrânia em suas fronteiras reconhecidas internacionalmente e a invasão acelerou as relações entre a União Europeia e a Ucrânia e, por fim, os EUA que passaram a aumentar a sua ajuda militar à Ucrânia e, que deixou a Rússia a sentir ameaçada.

Com a tomada de Crimeia por Putin, os interesses russos, propiciaram os capítulos que se deram em 2021 e, com a presente invasão da Ucrânia.

São muitas as alegações do governo russo para justificar a atual invasão da Ucrânia, mas duas se destacam, a saber: Primeiro, Putin encara o crescente apoio da OTAN à Ucrânia como uma firme ameaça à própria segurança. Com a fuga do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych em 2014 e a formação de governos pró-União Europeia e pró-OTAN desde então, as relações e entendimentos entre a OTAN e Ucrânia se tornaram mais frequentes e mais sólidos, com uma emenda constitucional de 2019 consolidando o desejo ucraniano de fazer parte da organização.

Em segundo lugar, a Rússia teme que a Ucrânia se fortaleça significativamente com a adesão à OTAN, com o presidente Putin acusando o Ocidente de estar se preparando para um ataque ao fortalecer os ucranianos, o que pode ser tratado como um discurso de Putin em que ele busca justificar uma ação bélica preventiva como um discurso de Putin.

Estima-se que há mais de cem mil soldados posicionados nas regiões fronteiriças, a situação parece cada vez mais uma bomba relógio difícil de ser desarmada, com a esperança de uma solução diplomática se tornando mais distante ao horizonte.

Enquanto os EUA, uma das potências mundiais interessadas no conflito armado, adota um discurso ambíguo com relação à sua resposta caso a Rússia inicie algum tipo de ataque, o resto do mundo prende a respiração na espera de solução pacífica.

Entre os defensores das novas guerras prevalece o conceito de que as características fundamentais das guerras estão sujeitas às mudanças em oposição ao modelo preconizado de Clausewitz. Os argumentos apresentados referem a desatualização da conjugação do conceito de guerra absoluta, com o conceito trinitário da guerra e a sua utilização como instrumento da política.

Preconiza Martin Van Creveld (1998) que no futuro a guerra não será função de exércitos, mas de grupos como terroristas, guerrilheiros e bandidos, e defende a obsolescência atual da trindade de Clausewitz.

Já Rupert Smith (2005) considera que a guerra como grande evento decisivo numa disputa internacional, já não existe e que com as novas guerras se verificou mudança de paradigma, da guerra industrial entre Estados para guerra no seio do povo, de confronto estratégico entre uma variada gama de combatentes.

Verifica-se que continuam a existir guerras onde se verificam ainda ambos os paradigmas ou uma evolução entre estes, como é o caso do conflito israelense-árabe, que incorporou a guerra industrial e a guerra entre os povos, da guerra do Iraque que evoluiu de uma guerra clássica, industrial e clausewitziana, em 2003, para um conflito complexo característico das novas guerras e do conflito entre a Rússia e Ucrânia, em 2014, caracterizada como guerra híbrida.

A evolução do fenômeno da guerra foi marcada por causas múltiplas que se relacionam e condicionam mutuamente, de forma dinâmica. E, os conflitos contemporâneos quando o forte enfrenta o fraco são mais fáceis de começar do que de terminar como se percebe das guerras do Afeganistão e no Iraque.

As ameaças passaram a ser de várias ordens, lutando por múltiplos objetivos e sobrepostos. e, tais novas guerras se desenvolvem em contextos operacionais de caráter subversivo e, apesar de manterem a natureza e, alguma continuidade, modificaram seu caráter, e se adaptaram a cada caso concreto, trazendo novos atores e evoluem mais rapidamente, de acordo com as novas formas e níveis que podem ser mais perturbadores que no passado.

Diante da anexação da Crimeia e a intervenção militar russa na Ucrânia os doutrinadores e a Aliança passaram a defender a necessidade de combater um novo fenômeno da guerra híbrida.

 

Referências

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, GianFranco. Dicionário de Política. 11ª edição. Tradução de Carmen C. Varriale; Gaetano Lo Mônaco, João Ferreira, Luís Guerreiro Pinto Cavais e Renzo Dini. Brasília: Editora UnB, 1983.

CLAUSEWITZ, C. V. Da Guerra. Lisboa: Perspectivas e Realidades, 1976.

CREVELD, M.V. The Transformation of War. New York: Éditions du Rocher, 1998.

D’ANIERI, Paul. Ukraine and Russia: from civilized divorce to uncivil war. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.

FERNANDES, Hugo Miguel Moutino. As Novas Guerras: O Desafio da Guerra Híbrida. Disponível em: https://www.ium.pt/s/wp-content/uploads/CIDIUM/Revista%20Ci%C3%AAncias%20Militares/RCM%20Vol.%20IV%20N.%C2%BA2%20-%20Hugo%20Fernandes%20-%20nov.%202016%20-%20As%20Novas%20Guerras%20...%20(PT).pdf  Acesso em 27.02.2022.

GROTIUS, Hugo. O Direito da Guerra e da Paz. Volume 1. 2ª edição. Tradução de Ciro Mioranza.  Ijuí: Unijuí 2005.

KORYBKO, A. Guerra híbrida: das revoluções coloridas aos golpes. Tradução de Thyago Antunes. São Paulo: Expressão Popular, 2018.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 9ª edição. São Paulo: RT, 2015.

PETERSEN, Tomás Mayer. O que você precisa saber sobre as Guerras Napoleônicas. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2019/10/o-que-voce-precisa-saber-sobre-guerras-napoleonicas.html Acesso em 27.02.2022.

POLITIZE! Ucrânia e Rússia: 3 pontos para entender a crise. Disponível em: https://www.politize.com.br/ucrania-e-russia/ Acesso em 27.03.2022.

VIEIRA, André Luiz V. Pacifismo e Guerra no Pensamento Político Internacional e a Construção de um Direito Humano e Fundamental à Paz. Disponível em: https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:_TNpXOFTOq0J:https://revistas.ufrj.br/index.php/inter/article/download/36620/22073+&cd=12&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br  Acesso em 27.02.2022.

SAINT-PIERRE, Abbé de. Projeto para Tornar a Paz Perpétua na Euopa. Tradução de Sérgio Duarte. Brasília: Editora UnB, 2003.

SMITH, R. A Utilidade da Força: A Arte da Guerra no Mundo Moderno. Lisboa: Edições 70, 2005.

 

 

 

 

 



[1] Importante insistir no estudo da evolução da doutrina do bellum justum. A primeira distinção entre Guerra Justa e Guerra Injusta é a de Santo Agostinho, mas é com São Tomás que foram teorizadas as condições, que são: 1. a declaração de guerra deve ser formulada por autoridade legítima; deve existir uma "justa causa"; o beligerante deve possuir uma  "justa intenção. E, a necessidade, isto é, da impossibilidade de fazer-se justiça com outros meios.

[2] Foi uma série de protestos e eventos políticos, ocorridos entre 2004 e 2005, que tomou diversos lugares de toda a Ucrânia, em resposta às alegações maciças de corrupção, intimidação por votos e fraude eleitoral direta, durante a eleição presidencial ucraniana de 2004.

Os protestos foram instigados por dados numéricos de observadores locais e estrangeiros, e de amplo conhecimento público, de que os resultados da votação de 21 de novembro de 2004 entre os principais candidatos, Viktor Yushchenko e Viktor Yanukovych, foram manipulados em favor do segundo. A eleição foi mantida pela lei ucraniana devido aos resultados oficiais da eleição presidencial ocorridas em 31 de outubro de 2004, na qual não houve candidato que obtivesse mais de 50% dos votos totais. O vencedor das eleições se tornou o terceiro presidente da Ucrânia desde sua independência, em 1991, após a queda da União Soviética.

Em grande parte devidos aos efeitos do movimento da oposição, os resultados da corrida eleitoral foram anulados e uma segunda eleição foi ordenada pela Suprema Corte da Ucrânia para 26 de dezembro de 2004. Sob uma intensa fiscalização na contagem de votos, a segunda votação foi aceita por observadores locais e internacionais como livre de problemas. Os resultados mostraram uma clara vitória de Yushchenko, que recebeu 52% dos votos, enquanto Yanukovych recebeu cerca de 44%. Yushchenko foi declarado o vencedor oficial e, com sua posse em 23 de janeiro de 2005, em Kiev, a Revolução Laranja obteve pleno êxito.

sábado, 5 de março de 2022

O legado de Bauman

 





 

Resumo: Diante do inefável legado de Zygmunt Bauman para a sociologia e filosofia, há também um legado para as Ciências Jurídicas, onde a dinâmica e a fluidez exigem da doutrina e da jurisprudência novas habilidades para se manterem eficazes e coerentes.

Palavras-Chave: Modernidade Líquida. Direito. Doutrina. Jurisprudência. Sociologia. Filosofia.

 

 

Zygmunt Bauman (1927-2017) foi sociólogo, filósofo, professor e escritor polonês, foi uma das vozes mais contundentes da sociedade contemporânea e criador da expressão "modernidade líquida" para classificar a intensa fluidez do mundo atual onde os indivíduos não possuem mais padrão de referência.

Nasceu na Polônia, na cidade de Poznan, filho de judeus, e em 1939, junto com sua família escapou da invasão das tropas nazistas na Polônia, tendo se refugiado na União Soviética (URSS). Alistou-se no exército polonês e

atuou no front soviética. Em 1940 ingressou no Partido Operário Unificado, partido comunista da Polônia. E, em 1945 entrou para o Serviço de Inteligência Militar, onde permaneceu durante três anos.

Com o término da Segunda Guerra Mundial, voltou para Varsóvia. E, conciliou sua carreira militar com os estudos universitários e também com sua militância partidária. Estudou Sociologia na Academia de Política e Ciências Sociais de Varsóvia.

Ingressou no mestrado na Universidade de Varsóvia. E, em 1950 deixou o Partido Operário. E, em 1953 foi expulso do Exército da Polônia. E, em 1954 concluiu o mestrado e, se tornou professor assistente de Sociologia na mesma Universidade. Durante muitos anos se manteve próximo à ortodoxia marxista, porém, depois passou a fazer severas críticas ao governo comunista da Polônia, o que resultou em sérias perseguições durante quinze anos.

E, em março de 1968, em protestos de professores, estudantes e artistas que lutavam contra a censura do regime polonês, que culminou com expurgo antissemita e, assim, obrigou a muitos poloneses de origem judaica a deixarem o país. E, assim, foi exilado em Israel, onde lecionou na Universidade de Tel-Aviv. Em 1971 foi convidado para lecionar Sociologia na Universidade de Leeds, na Inglaterra, onde também dirigiu o departamento de sociologia da Universidade até sua aposentadoria em 1990.

Durante mais de meio século foi um dos mais influentes observadores da realidade social e política, apesar de ser descrito como pessimista, endossou o coro dos que criticam a pós-modernidade, em busca de causas do processo social perverso, no mundo das ideias do pensamento anticapitalista.

Em 2000 criou o termo "modernidade líquida" para descrever as transformações do mundo contemporâneo, no qual nada é sólido e tudo se dilui no ar. Sua derradeira obra é intitulada "Estranhos à Nossa Porta" observa a crise dos refugiados que batem à porta da Europa.

A modernidade líquida parte do pressuposto de que, no passado, tudo era sólido. Assim, por exemplo: uma família tinha um pai, mãe e punhado de filhos. Doravante, o mundo estaria mais líquido.

Ou pelo menos, os conceitos se tornaram mais ambíguos. E, as famílias líquidas passaram a ser aceitas com naturalidade. E, hoje em dia, até mesmo um bando de solteiros ou solteiras que moram juntos pode ser considerada como família.

Para Bauman, não apenas as famílias que estão mais líquidas, mas também o mundo. Na vida profissional, um desses sintomas é a instabilidade das carreiras.

E, essa liquidez interfere até na hora de ter medo, pois ao invés de se ter um nítido inimigo, surge o terrorismo, que pode estar e atacar em qualquer lugar.

Não é porque o sociólogo polonês passou a entender o mundo, que ele passou a concordar com tudo que vige e dinamiza-se por aí. Ao revés, tornou-se crítico do consumismo exacerbado, o sociólogo reclama que fluidez tornou mais flexíveis os valores importantes, tal como a relação humana, o respeito, o amor e  comprometimento. E, curiosamente, foi a defesa de valores sólidos que fez de Bauman um dos pensadores contemporâneos mais importantes.

Vejamos alguns de seus pensamentos, in litteris:

Conheça um pouco do pensamento de Bauman:

“O medo está lá, saturando diariamente a existência humana, enquanto a desregulamentação penetra profundamente nos seus alicerces e os bastiões de defesa da sociedade civil desabam. O medo está lá – e recorrer a seus suprimentos aparentemente inexauríveis e avidamente renovados a fim de reconstruir um capital político depauperado é uma tentação à qual muitos políticos acham difícil resistir. E a estratégia de lucrar com o medo está igualmente bem arraigada, na verdade uma tradição que remonta aos anos iniciais do ataque liberal ao Estado social.” In:  Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”. [tradução Carlos Alberto Medeiros].Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 23.

“Massas cada vez maiores de pessoas desperdiçadas no equilíbrio político e social da coexistência humana planetária. A consequência da globalização do mercado financeiro e de trabalho, da modernização administrativa pelo capital, do modo de vida moderno, colaboram para os “escoadouros” humanos, excluindo os não pertencentes ao meio. […] A vida moderna produz uma “escala crescente: a população supérflua, supranumerária e irrelevante – a grande quantidade de sobras do mercado de trabalho e o refugo da economia orientada para o mercado, acima da capacidade dos dispositivos de reciclagem.”

In: Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 35.

“Transformações sociais, culturais e políticas associadas à passagem do estágio “sólido” para o estágio “líquido” da modernidade, o afastamento da nova elite (localmente estabelecida, mas globalmente orientada e apenas ligada de forma distante ao lugar em que se instalou) de seu antigo compromisso com a população local e a resultante brecha espiritual/ comunicacional.” In: Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 84.

“Pensar tira nossa mente da tarefa em curso, que requer sempre a corrida e a manutenção da velocidade. E na falta do pensamento, o patinar sobre o gelo fino que é uma fatalidade para todos os indivíduos frágeis na realidade porosa pode ser equivocadamente tomado como seu destino.” In: Zygmunt Bauman, trecho do livro “Modernidade líquida”. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.

“Tomar distância, tomar tempo – a fim de separar o destino e a fatalidade, de emancipar o destino da fatalidade, de torná-lo livre para confrontar a fatalidade e desafiá-la: essa é a vocação da sociologia. E é o que os sociólogos pode fazer caso de esforcem consciente, deliberada e honestamente para refundir a vocação a que atendem – sua fatalidade – em seu destino.” In: Zygmunt Bauman, trecho do livro “Modernidade líquida”. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.

 

“Nós somos responsáveis pelo outro, estando atento a isto ou não, desejando ou não, torcendo positivamente ou indo contra, pela simples razão de que, em nosso mundo globalizado, tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se privam de fazer) acaba afetando nossas vidas.”

In: Zygmunt Bauman, trecho do livro “Modernidade líquida”. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.

Eis a lista de obras de Bauman já publicadas no Brasil:

 Ética pós-moderna, de Zygmunt Bauman. [tradução João Rezende Costa]. 1ª ed., São Paulo: Paulus Editora, 1997.

Modernidade e holocausto, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Modernidade e ambivalência, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

Globalização: as consequências humanas, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

O mal-estar da pós-modernidade, de Zygmunt Bauman. [tradução Cláudia Martinelli Gama e Mauro Gama]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

Em busca da política, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

 Modernidade líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.

Comunidade: a busca por segurança no mundo atual, de Zygmunt Bauman. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2003.

Amor líquido, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004.

Vidas desperdiçadas, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.

Identidade, de Zygmunt Bauman. (Entrevista a Benedetto Vecchi). [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.

Europa – uma aventura inacabada, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.

Vida líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.

Tempos líquidos, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.

Medo líquido, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.

Vida para consumo, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.

A sociedade individualizada – vidas contadas e histórias vividas, de Zygmunt Bauman. [tradução José Gradel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.

Confiança e medo na cidade, de Zygmunt Bauman. [tradução Eliana Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.

A arte da vida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.

 Capitalismo parasitário, de Zygmunt Bauman. [tradução Eliana Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.

Legisladores e intérpretes, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.

A ética é possível num mundo de consumidores? de Zygmunt Bauman. [tradução Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.

Aprendendo a pensar com a sociologia, de Zygmunt Bauman e Tim May. [tradução

Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.

A vida a crédito, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.

Bauman sobre Bauman, de Zygmunt Bauman. (Biografia) [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.

Vida em fragmentos – sobre a ética pós-moderna, de Zygmunt Bauman.[tradução Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.

44 cartas do mundo líquido moderno, de Zygmunt Bauman. [tradução Vera Pereira]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.

Ensaios sobre o conceito de cultura, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.

A cultura no mundo líquido moderno, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.

Isto não é um diário, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.

Sobre a educação e juventude, de Zygmunt Bauman. (Conversas com Riccardo Mazzeo).. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2013.

Danos colaterais – desigualdades sociais numa era global, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2013.

Vigilância líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.

Cegueira moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.

A riqueza de poucos beneficia todos nós?, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.

Para que serve a sociologia? de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2015.

Estado de crise, de Zygmunt Bauman e Carlo Bordoni. [tradução Renato Aguiar]. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

O retorno do pêndulo: Sobre a psicanálise e o futuro do mundo líquido, de Zygmunt Bauman e Gustavo Dessal. [tradução Joana Angélica d’Avila Melo]. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

Retrotopia, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

A individualidade numa época de incertezas, de Zygmunt Bauman e Rein Raud. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

Nascidos em tempos líquidos: Transformações no terceiro milênio, de Zygmunt Bauman e Thomas Leoncini. [tradução Joana Angélica d’Avila Melo]. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

Mal líquido: Vivendo num mundo sem alternativas, de Zygmunt Bauman e Leonidas Donskis. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Zahar, 2019.

Livros sobre Zygmunt Bauman

SILVA, Paulo Fernando da. Conceito de ética na contemporaneidade segundo Bauman. São Paulo: FEU – Fundação Editora Unesp); Cultura Acadêmica, 2013.

 

Nove frases memoráveis para lembrar Zygmunt Bauman in:

El País Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/09/cultura/1483983882_874557.html Acesso em 11.01.2022.

1. “As redes sociais são uma armadilha”.

2. “O velho limite sagrado entre o horário de trabalho e o tempo pessoal desapareceu. Estamos permanentemente disponíveis, sempre no posto de trabalho”.

3. “Tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade”.

4. “Esquecemos o amor, a amizade, os sentimentos, o trabalho bem-feito. O que se consome, o que se compra, são apenas sedativos morais que tranquilizam seus escrúpulos éticos”.

5. “O movimento [espanhol] de 15 de março é emocional, carece de pensamento”.

6. “Os grupos de amigos ou as comunidades de bairro não te aceitam sem dar razão, mas ser membro de um grupo no Facebook é facílimo. Você pode ter mais de 500 contatos sem sair de casa, você aperta um botão e pronto”.

7. “Foi uma catástrofe arrastar a classe média à precariedade. O conflito não é mais entre classes, é de cada um com a sociedade”.

8. “As desigualdades sempre existiram, mas de vários séculos para cá se acreditou que a educação podia restabelecer a igualdade de oportunidades. Agora, 51% dos jovens diplomados estão desempregados e aqueles que têm trabalho têm empregos muito abaixo das suas qualificações. As grandes mudanças na história nunca vieram dos pobres, mas da frustração das pessoas com grandes expectativas que nunca se cumpriram”.

9. “A possibilidade de que o Reino Unido funcione sem a Europa é mínima”, disse em 2011.

Continuando:

 

Na era da informação, a invisibilidade é equivalente à morte.

Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os problemas que a afligem.

Os tempos são líquidos porque, assim como a água, tudo muda muito rapidamente. Na sociedade contemporânea, nada é feito para durar.

A vida é muito maior que a soma de seus momentos.

A incerteza foi sempre o chão familiar da escolha.

A única coisa que podemos ter certeza é a incerteza.

A paixão por se fazer notar é um exemplo importante, talvez o mais gritante, dos nossos tempos, nos quais a versão atualizada do cogito (penso) de Descartes seria: 'Sou visto (observado, notado, registrado), logo existo'.

Analisando como a modernidade líquida afeta as Ciências Jurídicas, segundo Renata Malta Vilas-Bôas, in litteris:

Se vivemos em uma modernidade líquida logo o direito acabou também sendo um “direito líquido”. Não no sentido jurídico, mas sim no sentido apontado por Bauman…

E esse direito líquido reflete-se em doutrinas superficiais, em que a reflexão jurídica fica prejudicada, a ausência de comprometimento tanto com  o estudo quanto com a responsabilidade do que se está dizendo e colocando – principalmente nas redes sociais. Surgem inúmeros “juristas de Facebook/Instagram”,  levando conceitos incompletos ou até mesmo errados para os seus seguidores.

(In: VILAS-BOAS, Renata Malta. Na Modernidade Líquida o Direito também é líquido? Disponível em: https://estadodedireito.com.br/na-modernidade-liquida-o-direito-tambem-e-liquido/ Acesso em 11.01.2022).

Já Mauro Gaudêncio Júnior Teixeira, aponta os desafios da nova hermenêutica constitucional, pois a modernidade líquida afetou também a interpretação constitucional na aproximação de uma visão dogmática constitucional: das identidades autoconstituídas que devem ser suficientemente sólidas para serem reconhecidas como tais e ao mesmo tempo flexíveis o suficiente para não impedir a liberdade de movimentos futuros em circunstâncias constantemente cambiantes e voláteis. [...]

 Ou a notória dificuldade de generalizar as experiências, vividas como inteiramente pessoais e subjetivas, em problemas que possam ser inscritos na agenda pública e tornar-se questões de políticas públicas (BAUMAN, 2010, p.56).

Júnior Teixeira apud Luís Roberto Barroso, aponta em sua obra três grandes transformações teóricas que revolucionaram o conhecimento tradicional relativamente à aplicação do direito constitucional, a saber: a) o reconhecimento de força normativa à Constituição; b) a expansão da jurisdição constitucional; c) o desenvolvimento de uma nova dogmática de interpretação.

O que contribui para contribuir as mudanças paradigmáticas sobre da Teoria da Constituição, trouxeram contribuições significativas para modelo jurídico institucional vigente em nosso país.

Há casos difíceis ou hard cases que decorrem da colisão de normas constitucionais, de questões morais, onde o papel do aplicador (julgador) ascenderá para criar a solução constitucionalmente adequada para o caso concreto. (In: JÚNIOR TEIXEIRA, Mauro Gaudêncio. Modernidade líquida. Os desafios da norma hermenêutica constitucional. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/24722/modernidade-liquida Acesso em 11.01.2022).

Estamos vivenciando a era de grupos de referência predeterminados a uma outra comparação universal, em que a autoconstrução individual pode influenciar de forma positiva o processo de interpretação da norma, fomentando à participação da sociedade na condição de destinatários da norma, seja como cointérpretes, conforme já explicava o doutrinador Haberle em sua obra intitulada Hermenêutica Constitucional, ao propor uma hermenêutica democrática, fazendo prevalecer a vontade da Constituição.  Afinal, deve-se realçar a relevância dos mecanismo que disseminem a vontade da Constituição, como a inclusão e a garantia e acesso aos direitos consagrados em nossa Constituição.

Lidar com a fluidez constante dos fatos e valores afetam o Direito e, lidar com isso é um dos desafios da Justiça, segundo o historiador Leandro Karnal. Pois afinal, nesse mundo líquido a autoridade é diluída, onde as realidades são dinâmicas e rápidas. Vivenciamos mudanças permanentes e, que não dependem da consciência e da vontade humana. Assim, temos opções, a saber: ou me transformo e me adapto ou eu paro e, então, a transformação passa por mim.

 

Referências

BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo Os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 3ª ed., São Paulo: Saraiva, 2011.

BAUMAN, Zygmunt. Legisladores e Intérpretes. Tradução de: Renato Aguiar, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.

DE VASCONCELLOS, Marcos. Realidade descrita por Zygmunt Bauman desafia o Direito e a Justiça. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-jan-09/realidade-descrita-zygmunt-bauman-desafia-direito-justica Acesso em 11.01.2022.

HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – A Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição: Contribuição para a Interpretação Pluralista e “Procedimental” da Constituição. Tradução de: Gilmar Ferreira Mendes, Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1997, reimp. 2002.

HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991.