A modernidade científica
Resumo: A Ciência Moderna
conseguiu articular o método de observação e experimentação com o uso de
instrumentos técnicos começou a se desenvolver, propriamente, na Europa do
século XVI. O nascimento da ciência moderna é tido por muitos como uma
revolução, tendo em vista que o mundo antigo e no mundo medieval as
investigações sobre os fenômenos naturais, organismos vivos, dentre outras
coisas, não se valiam do uso da técnica e nem concebiam o universo como sendo
composto de uma mesma matéria uniforme, suscetível à corrosão e à finitude. A
concepção de um universo infinito pressupunha uma linguagem nova. A matemática
seria essa nova linguagem. O mundo, segundo Galileu, poderia ser “lido”,
interpretado, através de caracteres geométricos. A matemática e a lógica
indutiva, mesclada com as concepções filosóficas do século XVII, notadamente o
racionalismo de René Descartes e o empirismo dos filósofos ingleses,
alinhavaram o sistema científico moderno, cujo desenvolvimento se deu progressivamente
até o advento da Teoria da Relatividade de Einstein e da Mecânica Quântica, de
Heisenberg e Bohn, na primeira metade do século XX.
Palavras-chave: Filosofia.
Modernidade. Empirismo. Racionalismo. Ciência Moderna.
Desde a filosofia política de
Thomas Hobbes que entendeu que o homem e o cidadão estão no mecanicismo
moderno. Até o pensamento científico que notabilizou a modernidade, percebe-se
que Hobbes criticou a tradição aristotélica da filosofia medieval e, ainda,
defendeu o caráter convencional das ciências e da política.
Na modernidade heliocêntrica
que racionaliza mitos e fábulas para fundamentar o pensamento científico, os
fundamentos da crítica de Hobbes trouxeram a natureza política do homem que
passa tanto por uma ressignificação das obras de Aristóteles[1] quanto pela moderna
racionalização dos mitos inaugurada por Francis Bacon.
De fato, modernidade foi
difundida com amplitude, particularmente, a inaugurada pelas revoluções científicas
do século XVII, constituindo um tipo de movimento intelectual e filosófico
massivamente aristotélico.
A tradição medieval se
ancorava nas interpretações teológicas da filosofia de Aristóteles (da
Metafísica, da Física e da Política), e a modernidade entendia que uma crítica
feita à autoridade eclesiástica da Igreja romana sobre as ciências, as artes e
a política deveriam se focar, sobretudo, na própria crítica à filosofia de
Aristóteles.
O que procurou purificar e
ressignificar a filosofia aristotélica, rejeitando assim o fundamento meramente
especulativo ou teórico dos princípios metafísicos da ciência medieval[2].
Assim, Francis Bacon
apresentou seus ensaios experimentais através da ressignificação das obras de
Aristóteles que estabeleceu o estatuto prático das ciências modernas como
espécie de purificação da sabedoria dos antigos.
O Novum Organum
científico apresentado por Bacon por meio da crítica dos ídolos que remontava à
Antiguidade tanto que considerava a Poética[3] como parte fundamental da
filosofia aristotélica sendo mais sistemática quando reduzia a autoridade
dogmática da Física e da Metafísica diante dos ensaios práticos de uma nova
ciência experimental.
Não obstante, Galileu com seus
“Diálogos” abordasse sobre os dois máximos sistemas do mundo, também tenha
tentado criticar o geocentrismo medieval com seu heliocentrismo copernicano,
racionalizando a sabedoria dos antigos mediante a restauração de mitos gregos e
romanos no campo da astronomia.
Aliás, Descartes teria também
tentado atualizar a sabedoria dos antigos assim como a autoridade ancestral da
geometria euclidiana, reivindicadas historicamente pela filosofia medieval de
orientação aristotélica.
Dentro desse contexto moderno
de críticas e ressignificação do pensamento de Aristóteles é que Hobbes parece ter
procurado estender o movimento filosófico das modernas ciências da natureza
também para as questões relacionadas à política e ao Estado civil.
Nesse contexto de reformas e ressignificações
intelectuais que o pensamento contratualista de Hobbes procurou concentrar toda
a sua força e potência para criticar as concepções escolásticas acerca de um
governo civil fundado sobre a concepção aristotélica do homem como animal
político.
Com base na concepção de uma
natureza política e racional do homem, os doutores da igreja medieval[4] teriam defendido secularmente
tanto o geocentrismo astronômico e cientifico quanto o direito divino e hereditário
dos reis e dos papas (HOBBES, 1983).
A crítica dos modernos que
rejeitavam tanto o geocentrismo quanto a hereditariedade do poder governamental
dos padres, nesse registro hobbesiano, teria que passar por uma revisão
propositiva tanto dos paradigmas científicos quanto dos princípios políticos da
época.
Daí o interesse de Hobbes por
levar para o campo da filosofia política um moderno método científico que
pudesse considerar as ações humanas e a própria constituição do Estado civil no
registro do movimento inercial dos autômatos e das máquinas inventadas pelos
modernos filósofos da natureza.
Ao rejeitar a tese
essencialista ou ontológica da metafísica aristotélica, Hobbes (2012) procurou
ressignificar a importância prática da geometria euclidiana e, se esforçou para
demonstrar que e como os princípios fundamentais do conhecimento científico moderno
deveriam rejeitar em tudo a ontologia das substâncias, essências e outras
derivações do verbo ser (sum/esse).
Hobbes entendia que o verbo
ser e suas derivações substantivas em nada auxiliariam na investigação daquilo
que seria mais fundamental nas ciências, quando não atrapalharia.
Acontece que, para Hobbes, o
ser, representado pela forma conjugada da cópula “_é_” de um juízo categórico
do tipo S é P, consistiria apenas em um verbo de ligação que não se refere à ação
ou matéria nenhuma no mundo.
A cópula (_é_) apenas
representaria uma relação ou uma ligação entre um sujeito (S) e seu predicado
(P) em um juízo do tipo “Sócrates é homem”, por exemplo.
Nesse exemplo, a cópula “_é_”
não significa coisa alguma diferente de “Sócrates” e de “homem”, mas apenas
representa uma relação entre o sujeito e o predicado do juízo, isto é, explicita
que Sócrates está contido no universo dos homens.
Sob o prisma moderno e utilitarista
da filosofia de Hobbes (1983), a ontologia aristotélica e outras investigações
filosóficas sobre o ser e seus e suas derivações substantivas (essência,
entidade, substância, etc.) seriam não apenas inúteis, mas também prejudiciais
às próprias práticas cientificas.
Isso porque, além de não ampliarem
o conhecimento humano sobre os fatos do mundo, essas teorias sobre o ser ou essências
separadas inventariam ontologias filosóficas abstratas e absurdas que só criariam
desavenças e desentendimentos de opiniões sobre coisas que estariam para além
da experiência humana possível.
Em outras palavras, Hobbes
entendeu que a geometria euclidiana não descreveria objetos naturais, mas, antes,
prescreveria modos possíveis de se agir e de proceder no processo de construção
de objetos figurados, a exemplo do círculo ou do triângulo.
E, é nesse registro ante
essencialista e prescritivo do método geométrico que Hobbes se esforçou para
rejeitar, no campo da ética mesmo, a tese aristotélica de que o homem é um
animal racional e político por natureza.
Para o filósofo, os homens e os
outros animais nascem, crescem e morrem segundo as mesmas leis de
autoconservação da vida e do movimento, de modo que todas as diferenças
fundamentais entre os homens e os outros animais (tanto quanto dos homens entre
si) resultariam das ações e dos próprios costumes humanos, não da
natureza.
Para Hobbes os homens não
nasceriam dotados de racionalidade e nem mesmo naturalmente inclinados à
sociedade (1983). A filosofia hobbesiana entende que os homens alcançam a
racionalidade e buscam o convívio social pacífico apenas pelo costume, pela instrução
e pela experiência.
Com isso, Hobbes procurou de
defender a ideia de que, ao contrário da concepção aristotélica, os homens não
nascem animais racionais e políticos e, nem tampouco o Estado é ou existe por
natureza, mas apenas por convenções e contratos (HOBBES, 2002).
Sob o prisma geométrico e mecanicista
do método hobbesiano, podemos dizer que sua crítica à aristotelia medieval
passa por uma ressignificação da metafísica, da física, da retórica, da ética e
até mesmo da poética, mas que se foca mesmo em uma rejeição completa dos
princípios que fundam a Política de Aristóteles.
Hobbes entendeu que as
críticas aos princípios fundamentais da filosofia aristotélica deveriam, antes
de tudo, rejeitar a ideia tradicional de que a racionalidade e a política
seriam expressões de uma natureza essencial ou substancial do homem.
Nesse sentido, o pensamento
contratualista moderno inaugurado por Hobbes, apesar de todas as restrições atuais
que deveríamos impor à sua concepção absolutista do representante civil
ilustrado pelo Leviatã[5], parece alertar os
cidadãos de sua época sobre os perigos do naturalismo político que a tradição eclesiástica
utilizava como maneira de ocultar os fundamentos convencionais ou humanos da política
e do Estado civil.
Nos capítulos de sua Política
(1999), Aristóteles procurou apresentar uma justificação lógica da hierarquia
natural que regularia a arquitetônica racional da polis segundo sua
origem natural e causal.
Para esse filósofo grego,
haveria uma hierarquia natural nas próprias coisas do mundo, diferenciadas pela
natureza segundo o grau substancial de suas essências e outras derivações do
próprio ser (1999).
No registro da Metafísica[6], por exemplo, as substâncias
puras ou simples portariam consigo um grau de excelência e perfeição superior às
substâncias misturadas ou compostas.
Esse mesmo pensamento,
expresso na Metafísica de Aristóteles no registro de uma hierarquia substancial
entre os graus do ser (ARISTÓTELES, 2002), pareceu também regular
sistematicamente as considerações do filósofo na Física, na Ética e na
Política.
Regulado pela ideia fixa de um
“lugar natural” determinado segundo o modo de ser de cada coisa, Aristóteles
procurou configurar sua concepção hierárquica da natureza de modo a poder
aplicá-la na investigação dos homens ou dos cidadãos.
Ao tratar da constituição da polis
na sua Política, Aristóteles defendeu a existência de uma hierarquia natural de
uns homens sobre os outros a partir de um a priori hierárquico do próprio ser
em si, tratado na Metafísica.
Ancorado naqueles princípios
metafísicos que caracterizam, na Ética, o modelo de homem mais excelente e livre
segundo diferentes graus de racionalidade, Aristóteles desenvolveu suas
considerações sobre a formação do governo civil na Política (1999) defendendo
que, por desígnio mesmo do ser ou da natureza, alguns poucos indivíduos teriam
nascido aptos para comandar e, os todos outros para serem comandados.
E, a partir dessa concepção
metafísica de uma hierarquia natural do ser no mundo, Aristóteles apresentou na
Metafísica (2002) uma espécie de pirâmide conceitual de onde se poderia
extrair, euclidianamente falando, uma concepção hierárquica do ser e da
natureza capaz de ser aplicada a todas as demais áreas de investigação filosófica,
inclusive ao homem.
É com base nessa concepção
metafísica de uma hierarquia natural do ser nas coisas do mundo que Aristóteles
procurou justificar na Política as diferenças entre humanos e animais, homens e
mulheres, senhores e escravos (1999).
Diferenças essas de ser, de
natureza ou de essências que regulam substancialmente as definições
aristotélicas do “lugar natural” dos homens, mulheres, dos filhos e dos
escravos dentro de uma pirâmide social hierárquica que coloca o animal racional
exaltado (pater familias) no topo mais alto do podium social.
Para a filosofia aristotélica,
os homens seriam animais racionais por natureza. Todavia, Aristóteles entendeu
que, apesar desse legado comum ser um atributo da natureza, haveria uma
gradação de racionalidade entre os indivíduos, estabelecida pela própria natureza
humana e pela diferença de graus do ser, essência ou substância dos corpos
materiais.
Assim, embora todos os homens
livres, escravos e mulheres possam ser considerados “seres racionais” por
natureza, Aristóteles defendeu que apenas os primeiros (homens livres) poderiam
alcançar o pleno uso dessa faculdade, em detrimento dos demais homens e
mulheres.
No registro de uma natureza
hierárquica, tabulada segundo graus de pureza e essência, Aristóteles procurou justificar
na Política a relação de subordinação do escravo frente ao senhor com base em diferentes
graus de racionalidade: o senhor ou pai de família estaria naturalmente
habilitado a comandar o escravo e a mulher com seus filhos pelo fato de ser
supostamente mais racional do que os outros, segundo os desígnios da própria
natureza ou do ser.
Nesse registro geral da hierarquia
natural do ser ou da substancia em Aristóteles, sua Política poderia até mesmo ser
entendida como uma espécie de teoria do “lugar natural” dos homens, das
mulheres e dos escravos dentro da pólis ou cidade-Estado.
Por essa razão ancestral de
uma hierarquia natural hereditária, a Política de Aristóteles fez citação
direta à sabedoria dos antigos poetas (Homero e Hesíodo, respectivamente) quando
defendeu que “os gregos tinham o direito de dominar os bárbaros” e que, no
pleno uso de sua racionalidade, um homem livre deveria possuir “a casa, depois
a mulher e o boi para o arado” (ARISTÓTELES, 1999).
A partir da hierarquia política
aristotélica, somente os homens que conquistassem propriedade e escravos
(esposa e prole) deveriam ser considerados indivíduos livres e, por essa razão,
aptos a conduzir racionalmente a si mesmos e designados a comandar os demais.
A estrutura piramidal que
caracteriza a arquitetura da Política aristotélica se regula por uma concepção
hierárquica de natureza ou do ser que passa pela Ética, pela Física e, remonta
mesmo à Metafísica.
Aristóteles entendeu que
aquilo que está no princípio de uma coisa deve também estar no seu fim (2002),
de modo que a finalidade de uma coisa deve corresponder à essência ou natureza
constitutiva dessa coisa encerrada em si.
Nesse registro metafísico, o filósofo
justificou as diferenças de poder na estrutura social da polis
defendendo insistentemente a tese finalista que isso seria um desígnio da
própria natureza do ser considerado em relação aos homens e cidadãos.
A família, assim, seria o
princípio e a matéria causal da vida política em Aristóteles, sendo considerada
a primeira forma natural de sociedade, a partir da qual a própria polis teria
se originado. Uma vez considerado o pai ou proprietário (pater familias)
como o ser mais racional dentre os homens, ele deveria naturalmente comandar a
mulher, os filhos e os escravos tal como os bois para o arado.
Considerando a figura do pai
como sendo o indivíduo mais racional da família exatamente por ser senhor e
proprietário, o formato político aristotélico, desenvolvido naturalmente a
partir desse princípio, conduz inevitavelmente a um modelo de governo
patriarcal, isto é, a um tipo de política de proprietários e de senhores de escravos
(oligarquia ou aristocracia).
E, assim como cada coisa teria
seu lugar natural dentro do pensamento metafísico e cosmológico de Aristóteles,
cada tipo de indivíduo teria seu “lugar natural” dentro da hierarquia social:
senhores para o comando, esposas para a procriação, escravos para o trabalho
manual e bois para o arado.
Sob esse prisma aristotélico,
podia-se afirmar que todos os povos e indivíduos que costumavam viver de modo
nômade ou selvagem, ou seja, não constituindo cidades hierárquicas, deveriam
ser considerados como seres inferiores e/ou menos racionais; donde se
justificaria a guerra e a escravização desses outros povos e indivíduos não politizados
ou civilizados, tendo em vista o suposto progresso, benefício ou sobrevivência
deles próprios.
Uma vez que, para Aristóteles,
o todo existe necessariamente antes das partes (2002), é preciso considerar,
analiticamente, que o animal político, sendo a matéria constitutiva da polis,
é, antes de tudo, o animal racional.
Ou ainda, os senhores de
família, artífices naturais dessa mesma polis, são, ao mesmo tempo, seres
racionais e animais políticos; posto que estão tanto no princípio quanto no fim
desse processo de constituição política. Aristóteles entendeu que a pólis
é o fim da natureza humana, isto é, a realização da essência ou da natureza do
ser humano como animal racional.
É na pólis que esses
homens exercem o seu logos, isto é, a razão de maneira mais excelente e
plena (1999). A natureza teria dotado os homens com a faculdade da razão,
expressa no comportamento humano sobretudo através da linguagem: o homem é um animal
que fala de tal e de tal modo, isto é, de maneira ordenada e representativa.
Acontece que o homem
aristotélico só poderia de fato realizar sua essência ou natureza racional se
tornando um cidadão, isto é, constituindo racionalmente a polis: a vida
racional plena em Aristóteles é a vida política.
Contudo, embora as mulheres,
os filhos e os escravos sejam considerados a base dessa pirâmide social,
somente alguns poucos homens naturalmente “mais racionais” é que poderiam realizar
esse suposto uso pleno da razão.
Sob esse prisma do Estado
constituído pela natureza racional do homem, podemos dizer que a polis
aristotélica não constituiria de fato um fim da natureza humana, porém um meio
de sua realização.
Noutras palavras, a política
em Aristóteles poderia ser entendida como um modo através do qual o homem
alcança o pleno uso de sua racionalidade, uma vez instaurada a hierarquia
social que colocaria cada indivíduo em seu lugar natural e os indivíduos mais
racionais no topo dessa pirâmide social.
A política de Aristóteles, sob esse prisma,
poderia ser entendida como um processo da natureza que transformaria homens em
cidadãos, de modo as pessoas que não se submetessem a um regime político
hierárquico não deveriam sequer ser consideradas seres humanos ou racionais.
Assim, o mesmo indivíduo, proprietário e pai de família, torna-se o cidadão,
posto como princípio e fim da política, ou seja, matéria e artífice da pólis.
Em outros termos, podemos afirmar
que, em termos de uma teleologia aristotélica, os homens que se encontram à
testa de uma cidade-Estado ou de um governo político estariam no fim desse processo
justamente porque estiveram no seu começo, ou seja, “o todo antes das partes”.
Esse tipo de raciocínio, que
perpassa questões relacionadas à metafísica, à física, à ética e remonta à política
de Aristóteles, parece ter mesmo servido de princípio para os doutores da
igreja romana medieval justificarem suas próprias superioridades em relação aos
fiéis, seus súditos (HOBBES, 1983).
Apoiados sobre os pilares
dessa concepção hierárquica da natureza em Aristóteles, as autoridades
eclesiásticas do medievo teriam procurado justificar a soberania hereditária dos
patriarcas, reis e senhores (papas) no registro de uma teoria filosófica do
reino dos céus na terra dos homens.
A finalidade dessa critica seria a
responsabilização do próprio homem, e não mais da natureza ou de Deus, pelas
causas e pelas consequências das ações políticas de um Estado civil do qual o
próprio homem seria tanto o artífice quanto a matéria.
A modernidade cientifica
acusou a tradição medieval de fundar suas teorias e justificações teológicas,
científicas e políticas sobre as bases metafísicas da filosofia de Aristóteles;
particularmente o geocentrismo e o direito divino dos reis.
A Modernidade é uma ideia
amplamente utilizada nas humanidades e que pode explicar diferentes aspectos:
pode dizer respeito ao tempo histórico, sendo o período que sucede a Idade
Média; pode designar uma vanguarda artística, o modernismo ou pode expressar
uma transformação na sociedade, também entendida como a racionalização social.
A sociologia irá trabalhar
mais especificamente com o último aspecto, fornecendo uma explicação das
sociedades modernas, de seus processos de diferenciação e dos seus critérios de
desenvolvimento.
Do ponto de vista da Era
Moderna, existem divergências quanto a sua datação específica, uma vez que
diferentes eventos podem marcar seu começo ou suas características mais
definidoras.
De modo esquemático, as raízes
culturais da Modernidade encontram-se na Reforma Protestante do século XVI, no
Renascimento do século XVII e espraiam-se para o Iluminismo do século XVIII,
elevando a razão ao patamar de novo critério orientador da sociedade.
Essas mudanças nas estruturas
culturais abriram a brecha para as duas revoluções que determinam, agora
politicamente, a Modernidade[7]: a Revolução Francesa e a
Revolução Industrial, ambas também na esteira de um acelerado movimento de
urbanização.
Adepto desse movimento moderno
de contestação e crítica à autoridade papal e eclesiástica da tradicional
igreja romana, Hobbes se esforçou para rejeitar os fundamentos da política
aristotélica, com o intuito de fundar as bases do moderno Estado laico sobre
outros paradigmas diversos: a geometria euclidiana.
Ao contrário da política de
Aristóteles, que considerava o homem sob o prisma da autonomia e da razão natural,
Hobbes entendia o homem como uma espécie de máquina, movida e comovida por suas
paixões mais irracionais: o medo e a esperança.
O homem hobbesiano[8] não é considerado um ser racional
por natureza, por isso tanto a política quanto as ciências em Hobbes dependem
sempre da instrução, da educação e dos costumes, não da revelação divina ou da
genialidade natural de alguns poucos homens mais sábios ou eruditos do que
outros de nascença.
O homem hobbesiano é uma
criatura, isto é, um artefato criado pelas mãos de um “Deus-pai”, assim como o cidadão
seria uma espécie de “manufatura” do Estado civil, isto é, da “pátria”.
Por conta disso, o homem e o
cidadão deveriam ser considerados como máquinas e autômatos que, assim como as demais
criaturas vivas, teriam sido programados por Deus e pelo Estado civil para se
auto conservarem e procriarem com esse legado hereditário à prole.
Sob esse prisma, por mais que
a modernidade hobbesiana tenha se esforçado para rejeitar a hierarquia do
naturalismo teológico na política medieval[9], sua proposta mecanicista
para a política parece resultar na transformação dos homens e dos cidadãos em
peças e engrenagem da máquina soberana de um Estado civil autômato: o Leviatã.
O homem é considerado por
Hobbes como uma máquina programada naturalmente para nascer, crescer,
reproduzir-se e morrer dentro de seu devido tempo. Sob esse prisma, podemos
dizer que a concepção de homem-máquina hobbesiano seria o resultado de uma filosofia
da natureza que toma como princípio e fim da conduta humana a autoconservação do
movimento da matéria: a geometria ou a mecânica moderna.
A vida é definida por Hobbes
como movimento, de modo que o objetivo
da conduta humana rumo à felicidade se caracterizaria como uma incessante busca pela autoconservação de
si e do movimento vital dos homens.
O mecanicismo ético hobbesiano
é ilustrado pela metáfora dos relógios de pêndulo, onde o movimento das
engrenagens, embora contínuo e ininterrupto, não teria por finalidade outra coisa
senão a conservação do próprio movimento dos ponteiros que marcam as horas
(HOBBES, 2002).
Nesse registro geométrico e
mecanicista, a filosofia hobbesiana entende tanto o homem natural quanto o
Estado civil sob o prisma de uma cosmologia moderna que regularia todas as coisas
no universo cada qual ao seu tempo: o princípio de autoconservação do movimento
da matéria.
A concepção da modernidade mecanicista de
Hobbes, tudo no mundo e na natureza seria regido pelas leis causais do
movimento. E, a causa de uma coisa em movimento deve ser sempre alguma outra
coisa também em movimento, nunca o repouso.
Desse modo, não seria
necessário, ou mesmo conveniente, para as ciências investigar os fenômenos do
movimento a partir de formas fixas, essências imutáveis ou substâncias isentas
de todo movimento e mudança.
Se tratando dos fenômenos do
movimento tudo seria aparência, incompletude constante e perpétua mudança. Por
isso a imutabilidade de formas fixas e essências estruturais atrapalhariam bastante
a interpretação prática da natureza e de tudo aquilo que muda no mundo, a
saber, os próprios fenômenos naturais ou políticos.
Essa concepção hobbesiana
acerca do princípio de autoconservação que regula a consideração da conduta dos
homens parece estar mesmo ancorada sobre a moderna ideia heliocêntrica
(copernicana/galileana) de que tudo no cosmos está em constante movimento
inercial, nunca em repouso.
Hobbes partiu do princípio
moderno de que tudo o que existe de fato na natureza são apenas os corpos em
movimento6. Por isso as ideias, pensamentos, imaginações, sensações e desejos
seriam apenas efeitos da matéria em movimento que atua sobre o corpo e os sentidos
humanos, ou seja, fenômenos ou manifestações do simples movimento.
Se a vida é também movimento
(circulação, respiração, articulação, etc.), então o desejo que os objetos externos
causam e produzem no interior das mentes e dos corações humanos não poderiam
encontrar seu fim ou repouso senão na morte do homem, que é a ausência do
movimento vital. E, assim como não haveria a felicidade humana entendida como o
repouso de um espírito satisfeito na polis,
Hobbes entendeu que a política
e o Estado civil não poderiam ser pensados como a realização natural ou a causa
final de uma suposta essência imutável do animal racional e político de Aristóteles.
O Estado civil e os cidadãos, para Hobbes, existiriam apenas por convenção e por
artifício, nunca por natureza.
Ao contrário de Aristóteles,
Hobbes entendeu que os homens não nascem seres racionais, mas que podem e devem
ser educados para a racionalidade; cujos usos eles podem vir a fazer
corretamente apenas quando se tornam adultos (1983).
Em outras palavras, Hobbes entendeu
que as crianças nasceriam aptas apenas a imitar o comportamento daqueles que as
educam: se são educadas por uma matilha de lobos vão aprender a uivar, caçar e
a se comportar como animais selvagens. Mas, se são educadas por uma pátria bem
constituída (Estado civil soberano), os homens podem aprender a falar
racionalmente e se tornam cidadãos obedientes, ou seja, animais domesticados.
Hobbes entendeu que a
racionalidade, isto é, o raciocínio ou o cálculo com palavras (ratiotinatio
e não ratio), não seria uma habilidade inata do homem, mas uma capacidade
adquirida através da educação, do costume e da experiência (1983).
A racionalidade que Hobbes
considera como sendo caraterística das ciências não seria propriamente aquela capacidade
natural de calcular (ratio), que os homens também compartilhariam com os outros
animais.
Muitos seres vivos são
inteligentes o bastante para calcularem os meios para sua sobrevivência e nem
por isso são considerados seres racionais ou dotados de ciência.
A razão científica em Hobbes
consiste naquele uso lógico ou ordenado que os homens fazem com linguagem nos
cálculos com signos e palavras (ratiotinatio). O interesse da filosofia hobbesiana
se volta mais para os usos da razão do que para a razão em si, considerando o
exercício dessa faculdade ou habilidade em ato, não apenas em potência.
Hobbes entendeu que o homem nasceria
com uma capacidade natural de calcular análoga a de quaisquer outros animais
dotados de inteligência. A racionalidade que diferenciaria os homens dos outros
animais não residiria em uma suposta essência humana racional, porém nos usos
que os homens fazem disso para se expressar e se comunicar uns com os outros.
Analogamente aos outros
animais, o homem hobbesiano seria dotado de uma razão natural calculadora que
prescreveria em tudo a autoconservação do indivíduo como regra básica da
conduta. Nesse registro, todos os usos dessa faculdade inata do homem deveriam
ser considerados como meios para a realização dos fins postos pelo desejo de
autoconservação.
A filosofia hobbesiana,
portanto, parece não se interessar tanto por uma consideração da razão (ratio)
como potencialidade humana em si, porém como ato ou ação, isto é, como raciocínio
(ratiotinatio).
A razão em Hobbes é
investigada segundo seus usos, por isso ela é considerada no registro de um
utilitarismo que entende essa faculdade natural como um instrumento das
paixões, não o contrário.
Se as ações que levam um
agente qualquer à autoconservação de si fosse um ato racional (deliberado),
então não seria possível entender porque, na busca pela autoconservação e pela
segurança dos indivíduos, os homens acabam fomentando a guerra entre si; o que
é manifestamente contrário à autoconservação da vida de quem quer que seja.
Eis o paradoxo[10] da filosofia hobbesiana[11]: buscar a paz através da
guerra parece ser contrário à razão de qualquer um que busque esse fim, porém
estaria em conformidade ao princípio de autoconservação da vida que rege os
desejos e a vontade dos homens.
O conhecimento humano
característico das ciências e da política pressupõe sempre o conhecimento das
causas da guerra e da paz, que são as paixões e as ações humanas.
Hobbes declarou que, na maior
parte das vezes, os homens agem contrários à razão na busca pela
autoconservação da vida através da subjugação da natureza, da antecipação e do
confronto bélico.
E, isso se explicaria não por
uma suposta hostilidade inata nos homens, mas pelo costume legado de uma
cultura bélica e conflituosa que vê tanto a natureza quanto os próprios homens
como potenciais inimigos.
Para Hobbes, portanto, os
homens não nascem seres racionais ou animais políticos, mas se tornam racionais
e políticos através da instrução e do costume.
Hobbes entendeu que a razão
natural dos homens como um instrumento das paixões. Instrumento esse que
operaria como mero calculador dos meios que levam aos fins postos pela vontade
e pelo desejo, não o contrário.
Os movimentos voluntários,
isto é, aqueles que passam pela deliberação da vontade, afirmou Hobbes, em nada
dependem da racionalidade para moverem, comoverem ou locomoverem os agentes. Um
pássaro, um peixe ou qualquer outro animal vivo poderia agir deliberadamente
com vistas à sua autoconservação e, nem por isso, deveriam ser chamados “seres
racionais”.
As ações deliberadas que
regulam o comportamento dos agentes são consideradas movimentos voluntários que
não dependem da razão para serem executadas, mas apenas da experiência, do
desejo e, evidentemente, da vontade.
Nesse registro mecanicista da
filosofia hobbesiana, a constituição do Estado civil e da própria política estatal
deveria, no processo de investigação da conduta dos homens e dos cidadãos,
levar em conta mais as paixões e a vontade dos homens do que a razão e os
conceitos filosóficos.
Isso porque, as primeiras
paixões, ao contrário da razão ou do cálculo, seriam atributos comuns a todos os
homens e capazes de regular igualmente as ações deles desde o nascimento até a
morte.
O Estado civil hobbesiano,
enquanto um poder constituído pelos homens e para os homens, se funda sobre as
paixões e a experiência dos indivíduos criados em uma cultura de medo e de
subordinação doméstica, a saber, os filhos pródigos da madre igreja romana (HOBBES,
1983). A razão civil é considerada produto do Estado, assim como também seria o
animal racional ou o cidadão.
O cidadão hobbesiano não é
considerado “cria da natureza”, mas sim produto da vida humana em sociedade,
isto é, do Estado. Não é sem razão, portanto, que Hobbes defenda a
obrigatoriedade do ensino público por parte do Estado civil soberano, tanto
quanto o controle da produção intelectual e das ciências desenvolvidas pelas
universidades e instituições de pesquisa.
No livro IV do Leviatã, bem
como em diversas passagens do De Corpore, Hobbes criticou as “trevas das
vãs filosofias”[12]
afirmando que o Estado deveria regular as doutrinas de fundamento metafisico e
religioso porque elas seriam infundadas e propensas aos conflitos de opinião.
A racionalização dos mitos
ancestrais na modernidade científica, sob esse prisma, poderia muito bem
auxiliar como um projeto criptografado de controle das paixões e produção da
opinião pública.
E, o Leviatã hobbesiano[13], como uma espécie de
racionalização do mito do Estado, parece ser a ilustração maquinal mais clara
desse projeto científico moderno: as ciências como um gigantesco artificio de engenharia
social.
Ao contrário de Aristóteles,
Hobbes entendeu que toda comunidade ou associação é sempre uma convenção
artificial e não natural. Nesse sentido, Hobbes compreendeu a família, que seria
a primeira forma de associação ou de comunidade humana, como a mais fundamental
convenção ou instituição artificial criada pelos homens, artífices do Estado.
A família em Hobbes, enquanto
o primeiro e mais fundamental artificio social dos homens, teria servido de modelo
e base para a constituição de um Estado civil também convencional ou
artificial, isto é, de uma máquina capaz de produzir ou reproduzir sua própria
prole de cidadãos obedientes.
Hobbes compreendeu os modos de
organização social dos inúmeros povos do mundo como costumes tão antigos e
diversos que seria praticamente impossível determinar uma forma fixa e imutável
da política, a partir de uma suposta natureza política dos homens em geral.
O conhecimento das causas
fundamentais da política dependeria do conhecimento dos movimentos e dos
poderes de seus elementos constitutivos, isto é, de sua matéria e de seus
artífices: ambos o homem.
O Estado civil moderno, isto
é, a civitas, deveria ser constituída como uma pátria soberana simplesmente
porque, segundo Hobbes, teriam sido os “pater familias” os primeiros fundadores
dessa instituição: um homem artificial civil criado à imagem e semelhança de
seus próprios artífices (HOBBES,1983).
Ao tratar do domínio despótico
e paterno, no Leviatã, II, 23 (1983) Hobbes afirmou que toda grande família que
não pertença a um Estado civil soberano poder ser considerada uma pequena
monarquia.
Nesse registro, podemos apontar
que, se existe uma “máquina ancestral” produtora do homem-máquina hobbesiano
essa “máquina ancestral” só pode ser a família. A família tradicional, sob o
prisma hobbesiano, poderia ser considerada uma espécie autômato original, capaz
de produzir e reproduzir um costume hereditário que desembocaria, por convenção
e artificio, na constituição de um Estado civil também maquinal.
E por mais que essa proposta
contratualista de Hobbes possibilite uma perspectiva humanística ou
antropomórfica sobre a fundação do Estado civil (coisa que o naturalismo
teológico do medievo jamais permitiria), o modelo maquinal, hereditário e soberano
da política hobbesiana parece ter se tornado um dos maiores desafios a serem
superados pelo pensamento democrático ou antiautoritário contemporâneo.
Pois, no registro do Leviatã hobbesiano,
o exercício do poder governamental pelas mãos de muitos homens pode propiciar um
cenário de disputa e competição entre as partes interessadas no governo.
Diante desse hipotético
cenário de competição entre os homens pelo poder e pela autoridade, comparável ao
estado de natureza hobbesiano, a figura soberana do Leviatã pode ressurgir das
cinzas do tempo no eterno retorno do progresso tecnológico, que atualiza o mito
do homem-máquina moderno como artífice permanente do Estado civil sempre
atualizado.
Pois, ainda hoje reverbera
fortemente os ecos do mecanicismo político hobbesiano nos atuais gerencialismo da
maquinal estatal capitalista. O simples fato de os economistas contemporâneos
ainda entenderem o Estado civil como uma espécie de máquina ou autômato revela
esse fundamento filosófico de uma modernidade hobbesiana que articula ciência e
política no mesmo registro do poder e da autoridade.
Sob o prisma de uma moderna
racionalização da sabedoria dos antigos, podemos afirmar que o pensamento
político de Hobbes deve ser entendido no registro das grandes revoluções científicas
daquele período; particularmente no tocante à ressignificação crítica da
filosofia de Aristóteles.
Assim, por mais que o
mecanicismo moderno possa ter sido crítico em relação à metafísica do medievo,
a própria modernidade parece ter se fundado sobre uma racionalização criptografada
dos princípios lógicos e representativos da filosofia aristotélica mais
prática: a arte poética.
Os mitos e fábulas ancestrais
parecem ter regulado a matéria de um imaginário filosófico moderno onde o
método geométrico teria operado mediante uma racionalização da sabedoria dos antigos
que fundava conceitos e representações das ideias cientificas, a exemplo do próprio
heliocentrismo de Copérnico e Galileu.
Se a ontologia aristotélica[14] se interessava por tratar
a substância e a razão como coisas em si mesmas, o mecanicismo moderno, por
outro lado, buscava tratar os fenômenos do movimento e os usos da racionalidade
segundo representações imagéticas e símbolos da linguagem humana articulada: a
geometria e suas figuras.
A imagem do próprio Leviatã,
como racionalização de um mito ancestral capaz de representar o Estado civil moderno,
é uma ilustração muito esclarecedora dessa atualização metodológica da potência
mitológica ou poética atrelada à geometria.
Trata-se de um moderno tipo de
“filosofia da representação” que, ao envolver teoria e prática no processo de
atualização da potência trágica dos mitos, poderia servir de inspiração
metodológica para fundar tanto as ciências naturais quanto a política na modernidade.
Bastando observarmos como, no
seu Novum Organun (bem como nos Ensaios e em outras obras filosóficas),
Bacon apresenta seu moderno “método das descobertas” cientificas nos termos de
uma “crítica dos ídolos” que remontaria diretamente ao teatro e à tragédia
(BACON, 1984).
O método trágico de “tradução e
purificação” filosófica de Bacon, aplicado às fábulas e à mitologia
greco-romana, poderia ensaiar uma “racionalização dos mitos” a partir dos
elementos essenciais de uma “lógica da representação” ilustrada pelo modelo de
tragédia retratada na Poética de Aristóteles.
Esse método de racionalização
dos mitos de Bacon parece ser análogo àquele do heliocentrismo copernicano defendido
e difundido por Galileu. Racionalização essa dos mitos que parece ter regulado
tanto a concepção mecanicista do homem em Descartes quanto a representação
leviatânica do Estado civil em Hobbes[15], que entendem o homem e o
Estado como artefatos.
Eis a grande peripécia catártica
da modernidade científica: o reconhecimento da Poética de Aristóteles como uma obra
fundamentalmente filosófica e de cunho tanto teórico quanto prático.
Divergências conceituais entre
pensadores modernos como Hobbes e Descartes, por exemplo, parecem retratar a
disputa interpretativa sobre a tradução e a racionalização dos mitos ancestrais
nos termos de diferentes derivações das línguas modernas: Galileu em italiano, Descartes
em francês, Hobbes em inglês, por exemplo.
Apesar das diferentes
traduções e interpretações modernas da tradição greco-romana, dentro de uma
modernidade heliocêntrica fomentada por Galileu, as filosofias de Hobbes e
Descartes parecem convergir para alguns pontos em comum, particularmente no
tocante a uma ressignificação criptografada do mito do Édipo[16].
Hobbes, por sua vez (logo na
introdução do seu Leviatã, por exemplo) afirmou que a vida é movimento e que as
paixões são como o combustível que move e comove o corpo humano como um todo.
Sob esse prisma mecanicista,
assim como o homem cartesiano é entendido como uma criatura confeccionada pelas
mãos divinas, para Hobbes o Estado civil seria uma espécie de homem-artificial confeccionado
pelas mãos dos próprios homens.
O fato é que, por influência
do mecanicismo moderno heliocêntrico, tanto para Descartes (2004) quanto para
Hobbes (1983), os homens e os cidadãos seriam máquinas ou autômatos programados
naturalmente para se autoconservar sempre no movimento vital.
O autoconhecimento de si dos
homens, nesse registro moderno, possibilitaria o conhecimento ou o
reconhecimento daqueles princípios de autoconservação do movimento que regularia
todas as ações humanas em conformidade à geração de todas as coisas da
natureza: o heliocentrismo característico da modernidade antropocêntrica do
século XVII como medida de todas as coisas, inclusive do homem e do Estado.
Sob o prisma de uma crítica
moderna à aristotelia medieval, o Novum Organun das ciências de
Bacon (1984) parece ter mesmo inspirado muitos ensaios e experimentações filosóficas
no período das grandes revoluções científicas.
A interpretação dos filósofos modernos
sobre a sistemática do Órganon de Aristóteles a partir da Poética, isto
é, da síntese racional dos mitos, parece ter inspirado as fábulas conceituais
de autores como Descartes e Hobbes, para não cogitar do heliocentrismo de
Galileu.
Esses filósofos teriam buscado
na geometria euclidiana formas e imagens adequadas para se racionalizar
conceitualmente as metáforas, as parábolas, as hipérboles e outras figuras de
linguagem poética afins, no registro de um método científico caracteristicamente
moderno e antropocêntrico.
Essa racionalização geométrica
dos mitos, advinda de uma restauração purificada da sabedoria dos antigos
gregos e romanos, parece ter regulado não apenas as considerações de Galileu no
campo da astronomia e de Bacon no campo da filosofia natural, mas também
Descartes no campo da metafísica e Hobbes no campo da política.
A inspiração edipiana da
Poética de Aristóteles na modernidade heliocêntrica parece ter sido tão
catártica que chegou mesmo a regular as investigações de Descartes desde o
início de suas Meditações.
O método cartesiano, expresso
também no “Discurso sobre o método”, parece mesmo regular os fundamentos da
filosofia do autor segundo aquela máxima prática do templo de Apolo em Delfos: nosce
te ipsum ou “conhece a ti mesmo”.
Conhecendo a si mesmos de modo
reflexivo e metódico, Descartes e Hobbes pensavam conhecer também o mundo e os demais
homens iguais a e diferentes deles.
No autoconhecimento do homem
moderno, portanto, residiria a resposta para todos os fenômenos e indagações
esfíngicas do conhecimento científico antigo e moderno: o conhecimento dos
homens e do mundo reduzido à circunferência do umbigo dos homens mais
civilizados.
É por essa razão edipiana que
Hobbes, no De Cive (2002), convocou os homens e os cidadãos a lerem a si
mesmos e, depois, no Leviatã (1983), apresenta sua teoria mecanicista das
paixões a partir daquela máxima apolínea do nosce te ipsum[17]
(que ele traduz como “leia a ti mesmo”).
Essa razão edipiana e apolínea
típica da modernidade teria sido colocada como princípio regulador de uma
filosofia moderna tanto natural quanto política, para não dizer também
religiosa.
Sob o prisma de uma
racionalização dos mitos como representação ilustrada da própria ciência
moderna, as críticas de Hobbes e de Descartes às indagações cientificas da Esfinge[18] ancestral[19] teriam tido mais ou menos
a mesma resposta edipiana: “o homem”, principio e fim do conhecimento humano do
que quer que seja.
No registro do heliocentrismo
cosmológico e do antropocentrismo cientifico da época, que juntavam filosofia
natural e política no registro da autoconservação dos corpos em movimento, a
modernidade parece ter representado esse “homem edipiano” como uma espécie de
máquina autorreplicante.
As perspectivas filosóficas
para o novo milênio deveriam pensar positivamente sobre a política futura ainda
no registro do constructo humano, porém sem resgatar com isso o contratualismo
maquinal do legado hobbesiano ou o naturalismo hierárquico do legado
aristotélico.
Acredito, em conclusão, que os
desafios da filosofia política contemporânea presente e futura implicam no
pensamento de novas perspectivas e práticas políticas que rejeitem o
conservadorismo cultural da família tradicional e da propriedade hereditária
que tanto o aristotelismo antigo quanto o contratualismo moderno parecem ter,
cada qual ao seu modo e gosto, deixado como legado comum à posteridade
filosófica.
Referência
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Política. In: “Coleção os pensadores”. São Paulo: Ed. Abril
cultural, 1999.
ARISTÓTELES. Metafísica.
São Paulo: Ed. Loyola, 2002.
BACON, F. A sabedoria dos
antigos. Ed. UNESP, São Paulo, 2002.
BACON, F. Novum organum
ou Verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza. In: “Coleção os pensadores”. São Paulo:
Ed. Abril cultural, 1984.
BETONI, Camila. Modernidade.
Disponível em: https://www.infoescola.com/sociologia/modernidade/
Acesso em 23.2.2024.
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DESCARTES, R. Discurso do
método. São Paulo: Ed, Martins Fontes, 2009.
GIDDENS, Anthony. As
consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991.
HOBBES, T. Leviatã ou
matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. In:
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HOBBES, T Do cidadão. São
Paulo: Ed. Martins Fontes, 2002.
HOBBES, T De corpore
(parte 1 – “Cálculo ou lógica”). Campinas:
Editora Unicamp, 2009.
HOBBES, T. Elementos da filosofia
(“Sobre o corpo”). São Paulo: Ed. Icone, 2012.
LATUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de
antropologia simétrica., Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994.
LEBRUN, G. A Filosofia e
sua História. Ed. Cosac Naify, São Paulo, 2006.
RINESI, E. Política e
tragédia: Hamlet, entre Hobbes e Maquiavel. Ed, Beco do Arougue, Rio de
Janeiro, 2009.
ROSSI, P. Os filósofos e as
máquinas. São Paulo: Ed. Companhia das Letras,1989.
WEBER, Max. Economia e
sociedade. Brasília: Editora da UNB, 1991.
[1]
Veja alguns dos principais escritos de Aristóteles separados por seus assuntos
gerais: Tratado metafísico: A Metafísica, conjunto de escritos denominado pelo
filósofo de Escritos sobre Filosofia Primeira e, posteriormente, reunidos e
catalogados por Andrônico de Rodes, é um extenso tratado sobre uma filosofia
pura que se dedicaria a entender o que é o ser em sua totalidade, ou seja, uma
espécie de ciência geral, mestra de todas as ciências. Tratados de Lógica:
Categorias – pequeno tratado de lógica que apresenta a necessidade da distinção
de categorias diferentes para que a expressão filosófica faça sentido. Também
são apresentadas nesse livro as noções básicas da lógica clássica. Da
Interpretação – texto que possui pontos em comum com O Sofista, de Platão. Fala
sobre a verdade e sobre a relação das palavras escritas e as operações mentais,
ou o raciocínio "Tratados de Física: Physica – constituída de oito livros,
a obra faz observações científicas sobre a Física Antiga, anotando algumas
noções que os antigos já possuíam sobre, por exemplo, densidade e movimento.
Tratados de Biologia Aristóteles escreveu alguns tratados de biologia,
analisando o funcionamento dos corpos animais, classificação de plantas e
insetos e as teorias sobre a origem da vida. Entre seus tratados sobre o
assunto, estão: História dos animais Da Geração e da Corrupção Da Geração
Animal" "Tratados de Antropologia Da Alma – escritos sobre a formação
da alma, que habitaria e daria movimento e vida aos corpos humanos, além da capacidade
racional. Também pode ser considerado um tratado de psicologia antigo. Tratados
sobre escrita (poesia e retórica) Poética Retórica".
[2]
As principais características da Filosofia Medieval têm inspiração na filosofia
clássica, ou seja, greco-romana, na união da fé cristã e da razão, a utilização
dos conceitos da filosofia grega ao cristianismo e na busca da verdade divina.
A ciência medieval trouxe muitos progressos, entre as descobertas científicas e
desenvolvimento tecnológico. E, pode-se citar o microscópio e o telescópio,
além de diversas técnicas agrícolas. Ciência medieval é a expressão usada para
designar as descobertas científicas ocorridas durante a Idade Média. A Europa
Ocidental entrou na Idade Média em grandes dificuldades que minaram a produção
intelectual dessa parte do continente. Os tempos eram confusos e havia-se
perdido o acesso aos tratados científicos da antiguidade clássica (em grego),
ficando apenas as compilações resumidas e até deturpadas que os romanos tinham
traduzido para o latim. Entretanto, com o início do chamado Renascimento do
Século XII, renovou-se o interesse pela investigação da natureza. A ciência que
se desenvolveu nesse período áureo da filosofia escolástica dava ênfase à
lógica e advogava o empirismo, entendendo a natureza como um sistema coerente
de leis que poderiam ser explicadas pela razão. Foi com essa visão que sábios
medievais se lançaram em busca de explicações para os fenômenos do universo e
conseguiram avanços importantes em áreas como a metodologia científica e a
física.
[3]
A Poética de Aristóteles procura abordar os diferentes tipos de poesia, a
estrutura de um bom poema e a divisão de um poema em suas partes componentes. O
autor define a poesia como um "meio de imitação" que procura
representar ou duplicar a vida por meio de caráter, emoção ou ação. A poética é
uma investigação filosófica sobre o que é uma boa poesia e uma boa literatura
segundo seu gênero. Para Aristóteles, o objetivo central de todas as artes é
alcançar a Beleza. Entenda o posicionamento dos filósofos clássicos acerca da
Beleza no último tópico do artigo sobre as sete artes.
[4]
Os doutores originais da Igreja foram os santos teólogos da Igreja ocidental,
como Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo, Santo Tomás de Aquino e o
Papa São Gregório I. As mulheres doutoras são Santa Catarina de Siena e Santa
Teresa d'Ávila, ambas nomeadas apenas em 1970.Doutor da Igreja (em latim: doctor
- "professor"; de docere - "ensinar") é um título conferido
por uma variedade de igrejas cristãs a indivíduos de reconhecida importância,
particularmente nos campos da teologia ou doutrina católica.
[5]
Na mitologia fenícia, o Leviatã apresenta-se como um monstro marinho de sete
cabeças que representa as forças maléficas. Segundo a mitologia babilônica, o
Leviatã representa o mar e foi vencido e submetido a Deus. Na mitologia
bíblica, o Leviatã é o rei dos soberbos. Leviatã (em hebraico: לִוְיָתָן; romaniz.:Livyatan,
Liwyāṯān) é um peixe feroz citado na Tanakh, ou no Antigo Testamento. É uma
criatura que, em alguns casos, pode ter interpretação mitológica, ou simbólica,
a depender do contexto em que a palavra é usada. Geralmente é descrito como
tendo grandes proporções.
[6]
Metafísica é a área que estuda e tenta explicar as principais questões do
pensamento filosófico, como a existência do ser, a causa e o sentido da
realidade, e os aspectos ligados a natureza. Quais são as 4 causas da
metafísica? As quatro causas Causa material: de que a coisa é feita? No exemplo
da casa, de tijolos. Causa eficiente: o que fez a coisa? A construção. Causa
formal: o que lhe dá a forma? A própria casa.
Causa final: o que lhe deu
a forma? A intenção do construtor.
[7]
A Modernidade marca, então, a era de nossa história onde a razão, o progresso e
a individualidade são tomados como os princípios centrais de organização da
sociedade. Contudo, os processos de modernização, isto é, as diferentes
maneiras como ele ocorreram pelo Ocidente, também vieram em par com seu oposto,
como dominação: o colonialismo europeu e o próprio Holocausto podem ser
entendidos como um desenvolvimento nefasto da explosão da técnica e da ciência,
isto é, da razão instrumental sobre outras formas de entendimento. Resta,
portanto, conservar aqueles ideais políticos de igualdade e liberdade como
legados da Modernidade e denunciar e combater suas formas de dominação que se
escondem sob o manto de um progresso que só chega para alguns, mas nunca para todos.
[8]
Hobbes vê o homem como um ser egocêntrico, irracional e refém de seu
semelhante. Nesse cenário de extrema liberdade, ausência de paz e insegurança,
refletindo em um estado de guerra por não haver controle entre os homens,
Hobbes relata o sentimento de poder, perseguição, e de traição do homem em
relação a outrem.
[9]
Durante a História Medieval, o Feudalismo foi uma organização política,
econômica e jurídica baseada na posse de terras, prevalecendo as relações de
vassalagem e suserania. A sociedade feudal era composta por camadas sociais bem
distintas (clero, nobreza e servos). O feudalismo é uma das principais
características da Idade Média. Trata-se de um sistema social, econômico e
político que vigorou por todo período medieval. Nesse sistema, terras eram
concedidas por um suserano ao seu vassalo em troca de fidelidade e ajuda
militar.
[10]
Pergunta antiga: Plutarco, um
historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego, propõe em uma
de suas obras, 'Vidas Paralelas', o seguinte contexto: imagine que Teseu parte,
a navio, de um ponto A até um ponto B. Até aí, a história parece simples,
porém, ao longo da viagem — que durou cerca de 50 anos —, peças da embarcação
vão sendo substituídas conforme se desgastam e, eventualmente, todas as partes
teriam sido trocadas. Fica então o questionamento: o navio que chegou em B
seria o mesmo que partira de A, ou já poderia ser considerado outro?
[11]
Um ponto que parece paradoxo em Hobbes se não fosse pela sua concepção do homem
no estado de natureza: todos se conscientizam, a partir do medo e insegurança,
a abrirem mão de todos os seus direitos em busca da paz. A filosofia de Hobbes
é materialista em essência. Primeiramente, busca refutar a metafísica, ou seja,
afirma que tudo tem existência material. Disso deriva sua visão mecanicista, em
que todos os fenômenos são explicados por força e movimento.
[12]
O Teocentrismo é a doutrina onde Deus e seus ensinamentos estão no fundamento
da sociedade. Esse pensamento vigorou durante a Idade Média. A palavra vem do
grego e significa: theos "Deus" e kentron "centro".
Literalmente "Deus como centro do mundo". O Teocentrismo Medieval
representou a relação entre o divino (religião) e os seres humanos medievo,
onde haveria a existência de uma única verdade, inspirada em Cristo e nos
preceitos da Bíblia.
[13]
É este Estado que Hobbes define de Leviatã, definindo-o como deus mortal, ao
qual devemos nossa paz e defesa. O objetivo do Estado é o bem comum entre todos
os indivíduos no qual o poder de seu representante é absoluto, soberano.
Leviatã ou Matéria, Palavra e Poder de um Governo Eclesiástico e Civil,
comumente chamado de Leviatã, é um livro escrito por Thomas Hobbes e publicado
em 1651. Ele é intitulado em referência ao Leviatã bíblico. O livro diz
respeito à estrutura da sociedade e do governo legítimo, e é considerado como
um dos exemplos mais antigos e mais influentes da teoria do contrato social. O
editor foi Andrew Crooke, parceiro da Andrew Crooke e William Crooke. Muitas
vezes, é considerada uma das obras mais influentes já escritas do pensamento político.
No livro, que foi escrito durante a Guerra Civil Inglesa, Thomas Hobbes defende
um contrato social e o governo de um soberano absoluto. Hobbes escreveu que o
caos ou a guerra civil - situações identificadas como um estado de natureza e
pelo famoso lema Bellum omnium contra omnes (eterna luta de todos contra todos)
- só poderia ser evitado por um governo central forte.
[14]
A Ontologia é para Aristóteles a filosofia primeira e tem como seu principal
objeto de pesquisa o ser enquanto tal, ele propõe a ontologia como um projeto
de ciência com pretensões de universalidade. Ontologia é o ramo da Filosofia
que estuda a natureza do ser, da existência e da própria realidade. A Ontologia
é classificada na filosofia como o ramo geral da metafísica (diferente da
Cosmologia, Psicologia e Teologia, que são ramos específicos), pois se ocupa
dos temas mais abrangentes e abstratos da área.
[15]
Para Thomas Hobbes, por exemplo, a instituição do Estado (ou da sociedade
civil), apesar de necessária, é artificial, pois, para ele, os homens não
nascem aptos para a sociedade, mas encontram nela um meio para obtenção de
benefícios próprios. A condição essencial do Estado Civil que, para Hobbes, é o
modelo monárquico – modelo em que o Absolutismo faz entender que para o ser
humano ter uma boa convivência em sociedade e chegar à paz e à segurança deve
manter-se em concordância do contrato perante as leis editadas pelo Leviatã.
[16]
A história de Édipo narrada por Sófocles faz parte de uma trilogia composta por
Édipo Rei, Antígona e Édipo em Colona. Édipo recebeu uma profecia de que
mataria o próprio pai e desposaria a própria mãe. Após anos, a profecia se
cumpriu, e Édipo, em desespero, perfurou os próprios olhos e passou a vagar
como um mendigo. "Quem foi Édipo? Personagem presente na mitologia grega,
Édipo é encontrado na tragédia escrita por Sófocles, dramaturgo grego, no
século V a.C. Essa versão do mito de Édipo é a mais conhecida da mitologia
grega, mas existem fragmentos da história desse personagem que são mencionados
por outros autores gregos da Antiguidade. Édipo faz parte de uma trilogia
escrita por Sófocles composta por Édipo Rei, Antígona e Édipo em Colono. Nos
mitos gregos, ficou conhecido por ser filho de Laio, rei de Tebas, e de sua
esposa, chamada Jocasta. A vida de Édipo mudou radicalmente por conta de uma
profecia que seu pai havia recebido. O mito narrado por Sófocles conta a
concretização dessa profecia." "O mito se inicia com uma profecia que
Laio e Jocasta, pai e mãe de Édipo, recebem do oráculo de Delfos. Segundo a
profecia, Laio seria morto pelo seu filho e Jocasta seria desposada por ele, o
que resultaria no fim da casa real que dominava a cidade de Tebas. Assim, os
pais de Édipo decidem dar um fim à vida de seu filho, príncipe de Tebas. Laio e
Jocasta entregam a criança para um servo para que ele desse um fim a ele, mas o
servo não faz isso. Esse servo decide deixar a criança amarrada pelos pés em
uma árvore em algum lugar entre as cidades de Tebas e Corinto. A criança é
encontrada por um camponês e levada para Corinto, onde é adotada por Pólibo,
rei daquela cidade."
[17] Normalmente atribuída ao filósofo grego
Sócrates (479-399 a.C.), a frase “conhece-te a ti mesmo” é, na verdade, a
inscrição que se via na entrada do Oráculo de Delfos. Em latim a frase,
"conhece a ti mesmo", é geralmente dada como Nosce te ipsum ou
temet nosce. A máxima, ou aforismo, "conhece a ti mesmo" teve
uma variedade de significados atribuídos a ele na literatura.
Sendo assim, a grande
tarefa da humanidade, segundo o deus Apolo, seria buscar o conhecimento de si
e, a partir daí, conhecer a verdade sobre o mundo. O deus Apolo era conhecido
por ser o deus da beleza, da perfeição e da razão. Por esse motivo, era um dos
deuses mais cultuados da Grécia Antiga.A razão, relacionada a Apolo, foi
primordial para o desenvolvimento da filosofia. O caráter reflexivo da
filosofia e a busca pelo conhecimento e pela verdade encontram em Apolo um
referencial.
[18]
Substantivo feminino [Mitologia] Monstro fabuloso e lendário com corpo, garras
e cauda de leão, mas com cabeça e busto humano que, para a mitologia grega,
propunha enigmas e devorava quem não os conseguisse decifrar.
[19]
Os gregos acreditavam que a esfinge possuía corpo de leão, asas e um rosto
humano com feições femininas. Falava-se que a esfinge era filha de Quimera, um
monstro que expelia fogo pelas narinas e possuía partes de quatro animais
diferentes: leão, bode, cobra e dragão. Os egípcios acreditavam que as esfinges
eram guardiãs espirituais dos locais onde eram construídas, e os gregos
acreditavam que elas eram monstros que devoravam humanos. Em geral, as esfinges
eram retratadas com corpo de leão e rosto humano, sendo este masculino ou
feminino. O que é que de manhã tem quatro patas, de tarde tem duas e de noite
tem três? O ser humano. Ele engatinha quando criança, caminha quando é adulto e
precisa de uma bengala assim que envelhece. Édipo foi quem respondeu à questão
e derrotou a Esfinge.